Turismo e cultura. Se nos juntamos… avançamos

Opinião 1

É frequente o português defender a sua quintinha com “unhas e dentes” e andar de costas voltadas para o seu vizinho sem perceber o mal que isso lhe faz. Acontece isso no nosso dia a dia, na nossa vida particular, mas também noutros quadrantes da nossa existência. Está-nos no sangue, mas não tem de ser assim. Não pode ser assim.

Antigamente fazíamos parcerias, hoje desenvolvemos redes colaborativas, mas o propósito é o mesmo. Juntam-se pessoas ou entidades e em conjunto trabalham para atingir objetivos comuns. Todos dão uma parte de si para que todos ganhem.

Este aspeto assume grande relevância para o Turismo porque este é, acima de tudo, experiência, e esta vai ser tão mais rica quanto mais diversificada possa ser.

Sem dúvida que temos dado bons passos nesse sentido, mas há uma área, importantíssima, que tem ficado aquém daquilo que poderia dar, e que é aquela que advém, ou poderia advir, da relação entre Turismo e Cultura.

Quando falo em cultura refiro-me concretamente ao património cultural imóvel, em especial arquitetónico, porque outras vertentes há do espetro cultural que hoje já têm grande ligação ao Turismo como é o caso, por exemplo, do fado e da gastronomia, reconhecidos como património cultural imaterial.

Mas voltando ao arquitetónico, de acordo com dados apontados no estudo Património Cultural em Portugal, da Fundação Millennium BCP, temos cerca de 38.000 (leu bem, são trinta e oito mil) bens patrimoniais, estando cerca de 4.500 classificados entre 2015 e 2017. Porém, incompreensivelmente, à data do estudo, apenas 250 desses pontos patrimoniais estavam abertos ao público e com entrada controlada.

Ainda de acordo com a mesma fonte, cada estrangeiro em Portugal visita, em média, 1 monumento, museu ou afim durante a sua estadia, sendo frequentemente o património cultural, a principal motivação da sua visita a Portugal, mas ainda com a procura muito concentrada em Lisboa, Sintra e Porto.

E é uma pena que assim seja, porque esse património está distribuído “de forma harmoniosa por todas as regiões do país”, o que poderia contribuir, e muito, para o desenvolvimento de territórios teoricamente menos atrativos.

Uma outra constatação diz respeito ao alheamento dos cidadãos nacionais para com os seus monumentos, museus e afins.

Não me vou deter no que de mal ou menos bem possa ter corrido ao nível das políticas públicas, da preservação e reabilitação do nosso património, ou mesmo sobre a forma como é feita a sua gestão, mas parece claro que há um subaproveitamento deste nosso património, situação que deve dar lugar a um investimento que nos permita (bem) aproveitar o nosso património, que é riquíssimo.

Devemos começar por conhecer bem todo o nosso “parque patrimonial” e depois cuidar dele, abri-lo às pessoas, torná-lo acessível, implementar redes de transportes que nos levem até ele, criar dinâmicas de atração, promovê-lo, implementar circuitos com a participação de outras atividades, no fundo, integrá-lo na nossa oferta turística, criando “a experiência” de que falava.

Devemos deixar-nos de dogmas e aceitar que a Cultura tem valor económico, e se estiver “aberta” ao Turismo, não só será acrescentado valor ao nosso património arquitetónico, como terá no Turismo o seu maior garante.

 

 

Ana Jacinto 

Secretária-geral da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal

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