A Igreja é mulher

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Três teólogas participaram no mais recente Conselho de Cardeais, um órgão consultivo do Papa. Não é inédito o convite a mulheres para se juntarem à discussão no chamado C9, mas é a primeira vez que Francisco acolhe uma bispa anglicana casada. O tema da reunião era precisamente a dimensão feminina da Igreja e a presença de uma ordenada no maior centro do poder no Vaticano reacendeu o debate sobre a possibilidade de ordenação sacerdotal, ou diaconal, de mulheres. Não sendo dogma, essa abertura nunca foi assumida pela Santa Sé, e continua a não ser, mesmo que na Igreja de Francisco soprem ventos de renovação.

Depois de ter empreendido uma profunda reforma da Cúria Romana, o Papa tem colocado o papel das mulheres no centro da reflexão da Igreja e introduziu-as em órgãos que eram exclusivamente masculinos. Atualmente, há mulheres a ocupar importantes cargos nos dicastérios e o número total de funcionários do sexo feminino no Vaticano aumentou desde que o jesuíta Mario Bergoglio ascendeu ao pontificado em 2013.

Em abril do ano passado, o Vaticano surpreendeu ao anunciar que a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que decorreu em outubro, teria um reforço significativo de mulheres e, pasme-se, elas teriam direito de voto. E se as duas últimas reuniões do Conselho de Cardeais já tinham contado com mulheres a aconselhar o Papa sobre os grandes desafios atuais do catolicismo, a deste mês abriu a porta a Jo Bailey Wells, uma das primeiras ordenadas da Igreja Anglicana, casada com um pastor daquela igreja protestante com quem tem dois filhos. Mulher, bispa, protestante, casada. Sentada entre cardeais a aconselhar o Papa.

Para muitos, são ainda demasiado tímidos os sinais de mudança numa organização profundamente machista, até porque o clero, e por consequência o poder, continuam a ser um exclusivo masculino. E há também quem defenda que a clericalização das mulheres não é uma prioridade, ou sequer o caminho, e que a influência feminina pode aprofundar-se por outras vias. Certo é que está em curso uma revolução silenciosa – até onde vai ainda é uma incógnita. Porque, como disse Francisco após o Sínodo de novembro passado, “a Igreja é mulher”.

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