Morrem Portugueses por causa disto. Mas não faz mal. Não se vê!!!!!!!

Opinião

Os farmacêuticos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) gerem a segunda maior fatia do orçamento da saúde assim como a tecnologia mais transversal e generalizada dos cuidados de saúde — o medicamento — tendo também intervenção direta, como especialistas nas áreas das análises clínicas e da genética humana.

Pela natureza da profissão somos algo invisíveis, estamos na segunda linha, na retaguarda, mas desafio-vos a imaginarem um SNS sem medicamentos e sem análises clínicas.
Todos os dias, nos hospitais onde esta realidade é possível, são salvas vidas pela intervenção silenciosa de farmacêuticos, sem que, quer a sociedade quer o doente se apercebam sequer que ela teve lugar.

No entanto estas vidas que são salvas, a morbilidade que é evitada, os custos que são minimizados poupando milhões de euros ao Estado, tudo isto não acontece em todos os hospitais onde não existem farmacêuticos em número suficiente para seu funcionamento normal.

A área farmacêutica é completamente órfã no SNS.

Foram precisos 20 anos para sensibilizar o poder político para a necessidade de uma carreira própria — a carreira farmacêutica — que regulamentasse e organizasse a atividade farmacêutica no SNS.

Para a implementar, foi-nos exigido o que a mais nenhuma classe profissional foi exigido: neutralidade orçamental. A nossa tabela remuneratória é hoje, por isso, a mesma de 1999, no século passado.

As condições de transição que nos foram impostas, sem qualquer racionalidade ou explicação fundamentada, colocaram 80% dos Farmacêuticos na base da carreira, alguns com 20, 30 e mais anos de serviço no SNS.

Estamos com uma desvalorização remuneratória absurda relativamente a todos os outros profissionais de saúde, que já viram por mais de uma vez as suas tabelas revistas. No entanto, inexplicavelmente, para os farmacêuticos o Governo recusa-se sequer a iniciar um processo de discussão sobre esta matéria com os sindicatos.

Os quadros de pessoal nas instituições são completamente insuficientes para as necessidades básicas de rotina do dia-a-dia. Um estudo da Universidade Nova identificava uma carência de 25% em farmacêuticos a nível do SNS. Para as atividades básicas.

Imagine-se a carência real, quando pensamos em todas as intervenções que o farmacêutico poderia ter e os ganhos em saúde que poderia haver se esta restrição não existisse.

Mesmo assim, a residência farmacêutica começou com cinco anos de atraso, tendo como consequência que os primeiros especialistas vão sair 10 anos após a publicação dos diplomas da carreira farmacêutica.

E atrair farmacêuticos para o SNS também parece não constituir qualquer preocupação.
Os farmacêuticos que hoje entram no SNS com um mestrado integrado como habilitação académica mínima, ganham menos do que os licenciados que ingressam hoje na função pública.

Colegas saem do SNS porque as condições de trabalho fora do mesmo não tem qualquer comparação e sorte nossa, a formação académica e profissional dos farmacêuticos permite-nos alternativas bem mais recompensadoras e atrativas.

Quem perde é o SNS e somos todos nós, que quando precisamos do SNS não temos os cuidados que podíamos ter.

O Governo pode escolher entre ter um SNS de urgência em que se salva aqueles que em situação de doença aguda a nós recorrem e pode entender que isso lhe basta ou pode escolher ter um SNS de qualidade onde todos os meios que a ciência põe hoje à nossa disposição são utilizados para melhorar a qualidade de vida dos Portugueses.

A escolha é meramente política. E infelizmente não parece ter sido a melhor.

 

 

Henrique Reguengo
Farmacêutico; presidente do Sindicato Nacional dos Farmacêuticos (SNF)

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