Auroras? “Não há risco para saúde, mas há perigos no uso da tecnologia”

O Notícias ao Minuto conversou com Teresa Barata, investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade de Coimbra, sobre as auroras que têm (aparentemente) surgido com maior frequência.
aurora bureal

Os aficionados pela observação do céu noturno têm tido, nos últimos tempos, várias ‘surpresas’ no que diz respeito a fenómenos vistos a olho nu. É o caso das auroras boreais que têm sido observadas um pouco por todo o mundo – e também em Portugal.

Partilhadas nas redes sociais, as imagens das auroras boreais têm encantado os portugueses, com o fenómeno a exibir tons rosados que nem sempre são associados a estes acontecimentos.

Notícias ao Minuto decidiu então falar com Teresa Barata, investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Universidade de Coimbra, que explicou a origem destes fenómenos e porque se tornaram (aparentemente) mais frequentes nos últimos tempos.

Nos últimos tempos temos visto cada vez mais situações e relatos de aparecimentos mais frequentes de auroras boreais, muitas vezes em regiões onde tal não é habitual. Qual é o motivo?

Estes fenómenos não estão a acontecer mais agora por alguma razão em particular. Sempre existiram ao longo do tempo. Há alturas em que a atividade solar está mais intensa, mais forte, e pode provocar estes fenómenos mais frequentemente. É este o caso. Há registos de auroras em Portugal no início do século passado, mas são fenómenos vistos por algumas vezes. Está relacionado com o comportamento da Terra a essa atividade solar, o que sempre existiu.

Simplesmente, agora vemos mais este efeito porque estamos a olhar mais para o céu, por causa da tecnologia e porque têm sido frequentes neste ciclo solar. No ciclo passado não houve auroras boreais significativas nestas latitudes (designadas como médias latitudes), porque nas latitudes mais altas sempre existiu – onde até existe um tipo de turismo assente na observação destes fenómenos.

Neste ciclo estamos a ver auroras nas nossas latitudes porque o Sol está com uma atividade mais forte relativamente ao ciclo anterior.

Houve uma tempestade geomagnética nas últimas semanas, certo?

Sim, foi esta semana. Começou no dia 8, houve uma Ejeção de Massa Coronal (ou CME) que atingiu a Terra. As explosões solares são fenómenos difíceis de prever e transportam eletrões e protões. Através desse transporte, que os sensores conseguem medir, conseguimos perceber se haverá fenómenos mais fortes na Terra e se representam algum perigo para a tecnologia na Terra. E aconteceu esta quinta-feira, dia 10.

Nós temos um campo magnético em volta da Terra, que nos protege e reage à atividade solar. Nessa ‘proteção’, acontece uma reação que provoca tempestades geomagnéticas e é nessa altura que observamos as auroras.

Mencionou perigos para a tecnologia. Que tipo de perigos? Há riscos para a população?

Não tem risco a nível de saúde humana, mas provoca perigos na medida em que usamos a tecnologia. É por isso que também estamos mais despertos a este tipo de fenómenos – como as auroras – porque a nossa tecnologia está também mais dependente de tecnologia espacial, dos satélites de telecomunicações, mais especificamente, que não têm um campo magnético a protegê-los como acontece com a Terra.

Os satélites são afetados primeiro e os astronautas também. Aí sim, há perigo porque se estiverem no Espaço estão expostos a radiação. Mas todas as tecnologias que dependem de satélites acabam por ser afetadas, como é o caso dos GPS’s, comunicações, aviação, explorações petrolíferas ‘off-shore’… É por isso que estamos mais cientes dos perigos que podem acontecer.

Nas redes elétricas sempre aconteceu. Ao interagir com a atividade solar, o nosso campo magnético sofre correntes induzidas e por isso também há problemas com as redes elétricas. Ao estarmos mais dependentes de tecnologia de ponta, também estamos a ficar mais vulneráveis a este tipo de situações que sempre ocorreram.

O Evento Carrington de 1859, por exemplo – que tem o nome do astrónomo que observou as manchas solares que deram origem a esse tempestade – resultou numa série de auroras e na altura ‘deu cabo’ do telégrafo, que eram as comunicações da altura. Um evento dessa natureza, neste momento, seria muito mais catastróficos para a nossa sociedade em termos tecnológicos.

E há alguma forma de contornar este tipo de situação?

O que os cientistas estão a fazer é criar centros de previsão e de alertas, com o mais importante a ser o National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA. O que estamos a tentar fazer neste momento é melhorar os modelos de previsão e melhorar a observação solar em permanência de forma a avisar os responsáveis por tecnologias que sejam mais vulneráveis, para que possam tomar medidas de prevenção.

Estes modelos estão cada vez melhores e há um grande investimento nisso, mas não é fácil porque da parte dos sectores económicos esta mensagem nem sempre passa.

O sector da aviação, por exemplo, está bem ciente deste problema porque afeta rotas polares e têm de ser desviadas do Polo Norte. Começou a haver mais rotas polares entre a América do Norte e a Ásia por uma questão de custo e diminuir o tempo de voo, mas acontece que quando há este tipo de problemas essas rotas são desviadas para prevenir problemas nas comunicações. Não representa o perigo de um avião cair. Mas os outros sectores económicos não estão cientes desta questão, que também passa pela comunicação dos cientistas e dos políticos.

Estes fenómenos não são tão fortes nas nossas latitudes. Se estivéssemos mais a norte, estaríamos muito mais cientes deste tipo de fenómenos.

Que tipo de condições é que deve ter uma explosão solar para que sejam vistas auroras em latitudes médias, mais a sul? Tem de ser mais violenta?

Não tem de ser particularmente violenta. Quanto maior for a tempestade magnética, é evidente que é mais fácil de se verem auroras em latitudes médias. Em Lisboa, no entanto, não se verá por uma razão muito simples: a poluição luminosa.

As condições ideais para se observar este tipo de fenómeno é um céu noturno limpo, não só de nuvens, mas também de poluição luminosa. Além disso, quanto mais a norte estivermos, mais observável será este fenómeno.

Sobre as auroras especificamente, as fotografias mostram este fenómeno com diferentes tonalidades – verde e rosa. São tipos diferentes de auroras ou é só uma cor que muda? Porquê a diferença na cor?

Tem a ver com as camadas na atmosfera que são ionizadas, com os átomos. No caso de médias latitudes, as camadas que estão sujeitas à energia da radiação são as mais baixas da atmosfera – o que provoca os tons mais rosados. No caso das latitudes mais a norte, é mais o topo da atmosfera e que confere aqueles tons verdes e com um ‘baile’ de cores mais exuberantes

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