A apresentação da programação esteve hoje a cargo do diretor de Estudos Musicais do TNSC, o maestro João Paulo Santos, coordenador da “comissão artística”, que inclui ainda os maestros da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), Antonio Pirolli, e do Coro do São Carlos, Giampaolo Vessella, em substituição da direção artística, que está vacante.
João Paulo Santos, que trabalha no teatro desde os seus 16 anos, já habituado “às dificuldades financeiras”, referiu o desafio que constitui não apresentar as programações lírica e sinfónica em sala própria, referindo-se às apresentações noutras cidades como um “semear” de novos públicos.
O TNSC é o único teatro lírico português e tem uma vocação nacional, salientou o maestro e pianista. João Paulo Santos quer que “o sair” de Lisboa “faça sentido”, porque o que se “está a produzir diz respeito a todos”.
O cartaz operático conta com “Il Trionfo del tempo e del disinganno”, de Handel, estreada em 1707, numa produção já apresentada em 2004, “L’elisir d’amore”, de Donizetti, estreada em 1832, e “Jenufa”, de Janácek, estreada em 1904, que será apresentada numa encenação de Robert Carsen.
A ópera de Donizetti, sob a direção musical de Bruno Borralhinho e encenação de Mário João Alves, será apresentada em fevereiro próximo, no Teatro das Figuras, em Faro, e no Municipal de Vila Real, e ainda, no dia 1 de março, no Centro Cultural e de Congressos nas Caldas da Rainha.
A de Leos Janácek, sob a direção musical de Jaroslav Kyzlink, estará, nos dias 21 e 23 de março, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, e, finalmente, a de Handel, sob a direção musical de Michael Hofstetter e encenação de Jacopo Spirei, terá três récitas em abril, no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, e duas no Theatro Circo, em Braga.
A programação sinfónica celebra duas efemérides, os 500 anos do nascimento de Luis Camões, poeta que inspirou compositores como Lopes-Graça, Croner de Vasconcelos e Schumann, e o 250.º aniversário do compositor e pianista João Domingos Bomtempo (1775-1842), ativista liberal, que foi diretor do Conservatório Nacional e, como pianista, um intérprete “importante na passagem técnica do pianismo de Beethoven para o de Liszt”, disse João Paulo Santos.
Questionado quanto à celebração dos 500 anos da morte do navegador Vasco da Gama que inspirou óperas e cantatas, Santos não afastou a possibilidade, referindo que “está ainda no limbo”. “Temos muito que fazer, e foi um bocado em cima da altura”, acrescentou.
O tema da “guerra”, “infelizmente óbvio, dada a situação”, é um dos eixos da programação de concertos. “Fausto”, “Consonâncias” e “Mulheres Compositoras” são outros vetores da programação.
Os concertos na temática “Consonâncias” têm em conta os espaços onde se apresentam e são constituídos por três peças, com a participação de um solista da Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP) e um cantor que “interpretará, certamente árias de ópera do século XVIII”.
Sobre o eixo “Compositoras”, João Paulo Santos referiu “o imenso repertório de qualidade extrema de compositoras”, que “começaram a escassear nas salas de concerto nos anos 1930 e foram banidas durante a Segunda Grande Guerra” (1939-1945).
“Não é uma questão de género, mas porque é muito bom”, justificou o maestro que referiu o seu interesse nesta matéria, e qualificou como “surpreendente” o concerto “Sob o Signo de Euterpe”, pela OSP dirigida pela maestrina Rita Castelo Branco, sendo solista a violoncelista Isabel Vaz, no próximo dia 24 de abril, no Teatro Aberto, em Lisboa. O programa é constituído por peças de Fanny Mendelssohn, Henriëtte Bosmans, Augusta Holmès, Lili Boulanger, Vitezslava Kaprálová e Florence Price.
O Teatro Aberto não será a única sala lisboeta onde o S. Carlos apresentará as suas produções sinfónicas. Outros espaços são a Igreja de S. Roque, a Academia das Ciências de Lisboa, o edifício onde funcionou o Tribunal da Boa-Hora, que vai acolher, a partir de janeiro próximo, os serviços administrativos do Organismo de Produção Artística (Opart), que tutela o TNSC, a OSP e a Companhia Nacional de Bailado.
No edifício do antigo Tribunal, no Chiado, serão instaladas duas salas de trabalho para a OSP e uma ‘box’ no claustro, que será a sala de ensaio Vasco Dantas. A sala para o Coro do S. Carlos será a antiga sala de audiências, explicou a presidente do Opart, Conceição Amaral.
O edifício do ex-Tribunal acolherá também alguns concertos e conferências.
A responsável referiu-se à descentralização do TNSC, como “estratégico”: “Um alargamento da missão de serviço público”, em que se apresenta como “fundamental, trabalhar com os públicos e os profissionais espalhados pelo país, onde temos equipas extraordinárias”, sublinhou Conceição Amaral.
A responsável espera “frutos” desta descentralização. “Estamos a lavrar este chão e este tempo de produção, que é muito pequeno, estamos a trabalhar com os parceiros, e não podemos nunca achar que isto vai morrer. São sementes que estamos a lançar, não podemos lá deixar um ovo que se abre naquele dia, voltamos e vimo-nos embora, não pode ser”, afirmou.
“Vamos lá deixar uma semente”, declarou Conceição Amaral. O custo desta “digressão” teve um reforço orçamental anual de 600.000 mil euros, acrescentou.
O TNSC, que tem estado em itinerância desde setembro passado, já esteve em 16 palcos, disse aos jornalistas Conceição Amaral.
O teatro, em Lisboa, deverá reabrir em finais de 2026 ou inícios de 2027, adiantou a responsável.
Questionada pela agência Lusa sobre quando será aberto concurso para o novo diretor artístico do TNSC, depois da saída em julho último de Ivan van Kalmthout, Conceição Amaral disse estarem a fechar a documentação para o lançar “ainda este ano”.