Tenho-me sentido cansada, fisicamente e psicologicamente. Não tenho dormido horas suficientes e provavelmente não estou a nutrir o meu corpo da melhor forma. Por vezes não sei o que ele precisa e era tão mais fácil se ele falasse comigo.
Talvez me dissesse que está exausto, exausto do ritmo frenético, de correr atrás de prazos, compromissos e responsabilidades. Exausto das noites mal dormidas, de saltar refeições e dos fins de semana preenchidos. Se o meu corpo falasse acho que me implorava por repouso, que fechasse os olhos por vinte minutos e descansasse.
Se o meu corpo falasse, gritava por atenção. Deve sentir-se negligenciado. É ingrato que só nos lembremos dele quando surge uma dor, um desconforto ou doença. Somos rápidos a encontrar soluções que tratem os sintomas, mas raramente paramos para compreender do que realmente precisa o nosso corpo. As nossas emoções, sejam elas boas ou más, manifestam-se no nosso corpo. O stress, a ansiedade, a tensão acumulada traduz-se em dores. Se ele se pudesse expressar talvez pedisse para estar mais atenta aos sinais, para cuidar melhor da minha saúde física e mental.
Esta falta de atenção não é um ato consciente, mas um reflexo de como a sociedade nos condiciona a colocar o “fazer” acima do “ser”. Procuramos ter o máximo rendimento em tudo o que fazemos e tratamos o corpo como uma máquina que precisa de estar em constante funcionamento. Esquecemo-nos que ele precisa de tempo para regenerar, de pausas para se recuperar e de momentos de prazer e relaxamento.
Se o nosso corpo falasse diria que não foi feito apenas para ser eficiente, mas também desfrutado. Relembrava-nos da importância das pequenas coisas. Da sensação da água fria num dia quente, o calor do sol sobre a pele, o sabor de uma refeição saborosa, do toque suave de um beijo e o calor de um abraço.
Se o nosso corpo falasse, talvez pedisse que o respeitássemos mais. Cada cicatriz, cada ruga, cada marca é um testemunho das batalhas que enfrentámos, das conquistas que alcançámos e dos momentos que vivemos. Muitas vezes tentamos escondê-las, julgando que ele deveria ser perfeito, inalterado pelo tempo.
Se o nosso corpo pudesse falar, pedia-nos para tratá-lo com mais gentileza. Para permitir que o movimento não seja um castigo, mas uma celebração. Que a alimentação não seja um escape ou uma punição, mas um ato de amor. E que possamos reconhecer que sentir dor, medo ou tristeza faz parte da experiência humana, e que ele é nosso aliado nesse processo e não nosso inimigo. O corpo quer ser tratado com carinho e equilíbrio, não com obsessão e rigidez.
Se o nosso corpo falasse, dir-nos-ia que o seu silêncio não deve ser interpretado como consentimento. Só porque ele não reclama imediatamente das nossas más escolhas, não significa que ele as aceita. Muitas vezes, os efeitos das nossas ações só aparecem anos depois, sob a forma de doenças crônicas, dores persistentes ou um sentimento de esgotamento constante. Pedir-nos-ia para sermos proativos, para não esperarmos até que o grito de alerta seja tão alto que não possa mais ser ignorado.
Se o nosso corpo falasse diria que a vida não é sobre correr sem parar, mas sobre encontrar o equilíbrio entre o esforço e o descanso, entre o cuidar e o viver. O nosso corpo é o reflexo mais verdadeiro de quem somos. Ele é a nossa casa, acompanha-nos em cada experiência, em cada desafio, em cada momento de alegria e tristeza.
Mais do que ouvir o que o corpo tem a dizer, precisamos de aprender a dialogar com ele. Respeitar suas limitações, aceder aos seus pedidos e celebrar a incrível capacidade que ele tem de se adaptar, de se regenerar e de nos sustentar.