Desde crianças que acreditamos que algures no mundo existe uma pessoa especial para nós, com quem compartilharemos uma vida inteira de felicidade e cumplicidade. Na realidade, os relacionamentos são muito mais complexos do que imaginamos e muitas vezes, o amor, tal como o conhecemos, pode ser transitório.
Na pouca experiência que tenho em relacionamentos sei que, o amor, enquanto emoção, não é estático. Evolui, muda de forma e intensidade ao longo do tempo. Com o tempo, esse sentimento pode transformar-se em algo mais calmo e profundo, ou pode simplesmente desvanecer.
As expectativas que criamos em relação ao amor são, muitas vezes, irrealistas. Esperamos que a pessoa que está ao nosso lado seja a nossa fonte de felicidade, compreensão e apoio, mas, o ser humano não é perfeito, as relações são compostas por duas pessoas com os seus próprios defeitos, inseguranças e desafios. Aprendi que, quando essas expectativas não são correspondidas, a deceção pode levar ao desgaste do relacionamento.
As pessoas crescem de maneira diferente, e aquilo que as unia anteriormente pode não ser suficiente para sustentar um relacionamento e a ligação que tinham. Isso não significa que o amor não existiu, mas que as pessoas mudam e, consequentemente, os seus sentimentos também. Restam as lições aprendidas e as memórias construídas.
O amor próprio é a única constante
O amor dos outros pode ser instável, influenciado por mudanças e desafios, o amor próprio é a base sobre a qual construímos a nossa identidade e bem-estar. É difícil nutrir esse amor, é uma jornada que dura a vida toda. O amor próprio é mais do que ter autoestima e confiança, é uma aceitação de quem somos, com todas as nossas qualidades e defeitos. É o compromisso de sermos fiéis a nós mesmos, independentemente das circunstâncias externas ou das opiniões alheias. É difícil, mas muito necessário.
Quando nos amamos, não dependemos da validação dos outros, não depositamos a nossa felicidade nos outros. É injusto que seja outra pessoa a preencher as nossas lacunas emocionais e cure feridas que só nós mesmos conseguimos curar.
Estando eu neste processo de cultivar esse amor próprio por mim, sei o quão difícil é. É muitas vezes ter de voltar a memórias que, de alguma forma, nos traumatizaram e magoaram. É querer abraçar a criança que fomos e dizer-lhe que vai ficar tudo bem. É sentir pena dessa criança que não sabia que ia passar por tantos desafios e tristezas e querer dar-lhe colo e protegê-la para sempre, como se da nossa filha/o se tratasse. O amor próprio exige paciência e compaixão por nós mesmos. É priorizar o nosso bem-estar e afastar o que nos faz mal, que nem sempre conseguimos detetar. É entender que merecemos respeito, felicidade e amor.
O amor próprio é um desafio. Vivemos numa sociedade que promove comparações, julgamentos e padrões inatingíveis. Nesses momentos, é fácil duvidar do nosso valor, mas também é nesses momentos que temos de nos lembrar que somos dignos e suficientes, independentemente do que o mundo nos diz.
Escrevo este artigo para todas as pessoas, mas também para mim, para me lembrar disto todos os dias, porque nós somos a nossa eterna companhia, nós somos suficientes e se quisermos melhorar, que seja por nós.