O amor é simples, dizem. E talvez até seja. Nós, seres humanos, é que temos tendência a complicar o que deve ser simples.
Gosto de observar o que me rodeia, as coisas, as pessoas. No outro dia, vi um casal a discutir, mas, não era uma discussão séria, parecia uma dança de teimosias. Ele insistia que tinha a tinha avisado sobre o compromisso, ela jurava que não. Insistiam naquilo, mas, a meio da discussão, ele segurou a mão dela. Só segurou. E, por um instante, ficou tudo em silêncio. Ela respirou fundo, olharam um para o outro e sorriram, como quem esquece o motivo da discórdia e se lembra que, no fundo, estão do mesmo lado.
E ali estava o amor: simples, discreto, escondido num gesto.
O amor, ao contrário do que dizem as músicas ou os filmes, não precisa de grandiosidade. Ele não é feito apenas de flores entregues à porta ou declarações à beira mar. O amor mora nos detalhes: no prato preferido que alguém cozinha depois de um dia mau, na mensagem que chega e pergunta “chegaste bem?”, na paciência de esperar que alguém termine de falar, mesmo quando já sabemos o que vai ser dito.
Ele é tão simples que temos tendência a complicar. Criamos regras, expectativas, roteiros imaginários. Acreditamos que amar deve ser uma montanha russa de emoções, quando, na verdade, é mais como um dia normal na nossa vida.
O amor é como a gravidade. Não a vemos, mas ela está lá, a segurar tudo. E, assim como a gravidade, ele também tem as suas leis. Respeitar o espaço do outro, ouvir com atenção, ceder de vez em quando. Parece pouco, mas é tudo.
O problema é que confundimos simplicidade com facilidade. O amor não é fácil. Amar exige esforço, disposição, coragem para encarar não só os defeitos do outro, mas os nossos próprios defeitos. A simplicidade do amor está na sua essência, mas vivê-lo requer dedicação.
Observo outro casal a entrar no autocarro. Estão sentados lado a lado, mas não dizem nada. Ele está a olhar pela janela e ela está a mexer no telemóvel. Nada neles denuncia paixão ou encantamento, mas, quando o autocarro faz uma paragem brusca, ele, sem pensar, estende o braço para a segurar. Um reflexo simples, mas cheio de significado.
Talvez o amor seja isso: um cuidado automático, quase impercetível.
Vou-me apercebendo que o amor não precisa de ser complicado para ser forte, nem barulhento para ser verdadeiro. O amor não pode ser obcecado nem prisão. Ele é simples. Nós é que insistimos em colocar obstáculos, como se tivéssemos medo de que algo tão puro não pudesse durar.
O amor é simples e não tem pressa, mesmo os impacientes aprendem a esperar. O amor não te pede para seres diferente, para te moldares e cederes sempre. Ele cresce nos espaços onde a aceitação mora, nas conversas honestas, nos gestos despretensiosos. Ele cresce na mensagem inesperada a meio do dia e no silêncio confortável no final do dia.
Talvez não devêssemos perguntar se o amor é simples, mas sim se estamos dispostos a torná-lo assim.
Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa