Não é Cavaco, é Marcelo

opiniao

1. Foi grande a excitação com a intervenção de Cavaco Silva no congresso dos autarcas do PSD. Em tom de comício, o ex-presidente da República acusou os socialistas de serem “mentirosos” e “incompetentes”, entre outros mimos.

Os sociais-democratas sentiram-se galvanizados, os socialistas rasgaram as vestes e os analistas tentaram perceber se este seria mais um sinal do fim do consulado de António Costa. Mas, se é verdade que a dura intervenção de Cavaco ajudou a manter vivo o espetáculo permanente em que se transformou a política, não é menos que se esgotará numa semana. As palavras de um ex-presidente têm mais importância do que outros atores políticos na reforma, mas, nestes tempos polarizados, têm prazo curto de validade. Ainda assim, e para citar Marcelo Rebelo de Sousa, que se socorreu dos versos de Sophia, “vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar.”

2. Luís Montenegro seguiu do congresso dos autarcas para as jornadas parlamentares do PSD na Madeira. E quis manter as tropas motivadas, anunciando que o ciclo socialista “está a chegar ao fim”. O problema é que o fim depende mais da vertigem suicida do PS do que da vontade do PSD. Há uma maioria absoluta com pouco mais de um ano. E, como o fim não é assim tão evidente, acrescentou a metáfora das lapas “agarradinhas” ao poder. “Já tiveram a vossa oportunidade e já a desperdiçaram (…) Está a chegar a nossa vez”. Parece demasiada sede em ir ao pote, sobretudo para quem não pede eleições antecipadas. A legislatura, é bom lembrar, dura até outubro de 2026 (faltam mais de três anos!). Mesmo que o Governo continue sob fogo da comissão parlamentar de inquérito à TAP até meados de junho, depois disso o país vai a banhos. A única dúvida é o que dirá Pedro Nuno Santos, que terá, não uma, mas duas aparições em comissões parlamentares. Apostará na política da terra queimada? Vamos ver, ouvir e ler. E Marcelo decidirá se ignora ou não. Porque é ele, e não Cavaco, que tem a mala com os códigos nucleares.

*Diretor-adjunto

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