A literacia financeira vai ser lecionada enquanto disciplina em sete escolas que vão participar num projeto-piloto que será lançado no próximo ano letivo. O estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico revelou que os jovens portugueses têm menos contacto com produtos e atividades financeiras – apenas 38% tinham conta bancária (a média da OCDE é 63%) e apenas 27% tinham cartão de débito ou crédito (contra 62% da OCDE) -, mas destacam-se quando toca a comparar preços.
A introdução da literacia financeira nas escolas não é apenas uma questão de ensinar a gestão de orçamentos pessoais ou de poupança. Trata-se de fornecer aos estudantes as ferramentas necessárias para tomarem decisões económicas responsáveis e fundamentadas, não só para a sua vida pessoal, mas também para a sua participação ativa na sociedade. A ignorância financeira pode levar a escolhas inadequadas, endividamento e até a dificuldades económicas, um cenário que, infelizmente, é cada vez mais comum.
Educar para o Futuro
Com a crescente complexidade do mundo financeiro, as novas gerações enfrentam desafios inéditos. O consumo desenfreado, a oferta de crédito fácil e o marketing agressivo das instituições financeiras são fenómenos que tornam o comportamento financeiro mais arriscado. Se os jovens não forem educados desde cedo para lidar com essas questões, correm o risco de entrar na vida adulta com comportamentos financeiros desajustados, perpetuando um ciclo de dificuldades económicas.
A literacia financeira deve ser, por isso, encarada como uma competência essencial para o século XXI, tal como a matemática, a língua portuguesa ou as ciências. Ensinar aos estudantes conceitos básicos como o que é um orçamento, como fazer uma poupança, a importância do crédito e as noções de investimento e de seguro são questões que, uma vez compreendidas, têm o potencial de transformar as suas vidas. Um jovem que compreende o impacto de gastar além das suas possibilidades ou de contrair dívidas sem um plano de pagamento claro terá maior capacidade para evitar as armadilhas do endividamento e para tomar decisões mais equilibradas no futuro.
O Papel da Escola
As escolas têm a responsabilidade de preparar os alunos não apenas para o mercado de trabalho, mas também para a vida em sociedade. A literacia financeira deve ser encarada como um pilar da educação cívica, pois é fundamental para a formação de cidadãos conscientes e responsáveis. Numa sociedade em que as decisões económicas afetam todos, é importante que as futuras gerações saibam interpretar os sinais do mercado, entender as políticas económicas e tomar decisões informadas sobre os seus próprios recursos.
A literacia financeira é uma competência essencial para o desenvolvimento de cidadãos autónomos, informados e responsáveis. Dada a sua importância, a educação financeira nas escolas não deve ser vista como um luxo, mas como uma necessidade. As escolas devem, portanto, integrar esta temática nos seus currículos, de forma a equipar os jovens com as ferramentas necessárias para navegar num mundo financeiro cada vez mais complexo e desafiante. Só assim será possível garantir que as novas gerações possam viver de forma mais equilibrada, informada e segura.
Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa