‘On Falling’ recebeu igualmente uma menção honrosa no prémio ‘Otra Mirada’, atribuído pela RTVE, televisão pública espanhola, conforme o palmarés hoje anunciado, no encerramento da 72.ª edição do Festival de San Sebastián. O prémio ‘Otra Mirada’ consiste na aquisição dos direitos televisivos.
A Concha de Ouro de melhor filme foi para o espanhol Albert Serra, pelo documentário ‘Tardes de soledad’, que também tem coprodução portuguesa através da Rosa Filmes.
‘On Falling’ é a primeira longa-metragem de Laura Carreira, depois de ter dirigido as ‘curtas’ ‘Red Hill’ (2918) e ‘The Shift’ (2020).
Em todos os filmes, Laura Carreira explora questões ligadas ao trabalho e à precariedade.
Em ‘On Falling’ (‘Sobre o cair’, em tradução livre), a figura central é Aurora, uma jovem mulher portuguesa emigrada na Escócia, que trabalha num armazém e se depara com dificuldades em subsistir mensalmente e em socializar, numa casa partilhada com outros imigrantes.
Laura Carreira “trespassa a alma do espectador” com o drama de Aurora, escreve a crítica espanhola.
Protagonizado pela atriz Joana Santos, ‘On Falling’ teve estreia mundial este mês no Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, e fez parte da competição oficial em San Sebastian.
‘On Falling’ tem produção da portuguesa BRO Cinema, em coprodução com o Reino Unido, através da Sixteen Films, cofundada pelo realizador Ken Loach.
Laura Carreira, que nasceu no Porto em 1994, rumou em 2012 à Escócia para estudar Cinema, coincidindo com a crise económica que assolou Portugal, e é no Reino Unido que ainda vive e trabalha.
Em entrevista à agência Lusa, em 2020, quando mostrou ‘The Shift’ no festival de Veneza, Laura Carreira contou que queria continuar a explorar temas que, no seu entender, são pouco abordados no cinema, relacionados com pobreza, trabalho, perda de direitos, precariedade, mas sempre pela ficção.
O realizador espanhol Pedro Martín-Calero, distinguido ex-aequo com Laura Carreira, também tem em ‘El Llanto’ a sua primeira longa-metragem. O diário El País apresenta este filme como um drama que “submerge no terror do patriarcado”, “uma dor que ultrapassa fronteiras e se perpetua no tempo e no espaço”, de Buenos Aires a Madrid, dos anos 1990 aos dias de hoje.
‘Tardes de soledad’, de Albert Serra, é um documentário centrado no toureiro peruano Andrés Roca Rey, num dia de corrida. O cineasta acompanhou-o durante três anos, em 14 touradas e na morte de 42 touros.
“O resultado não permite perceber se o filme é a favor ou contra as touradas”, escreve a agência Efe. “Mas o som da respiração do touro é ensurdecedor […] e a forma de mostrar a agonia do animal face à euforia do homem ou à exclusão absoluta da mulher […] apenas nos permite vislumbrar ‘o que há'”.
A Concha de Prata para melhor interpretação foi para Patricia López Arnaiz, pelo desempenho em ‘Los destellos’, da espanhola Pilar Palomero, e o de melhor interpretação secundária para Pierre Lottin, por ‘Quand vient l’automne’, do francês François Ozon, que também foi distinguido pelo argumento.
A norte-americana Gia Coppola teve o prémio especial do júri por ‘The Last Showgirl’.
O prémio do público para melhor filme europeu foi para ‘The Seed of the Sacred Fig’, coprodução franco-alemã do iraniano Mohammad Rasoulof, que em Cannes já vencera o prémio especial do júri e o prémio da federação internacional de críticos de cinema (Fipresci).
O prémio ‘Otra mirada’ da RTVE foi para ‘All we imagine as light’, da indiana Payal Kapadia.
O júri desta edição do Festival foi composto pelo cineasta Jaione Camborda, que presidiu, a escritora Leila Guerriero, os realizadores Fran Kranz e Ulrich Seidl, e pelos produtores Carole Scotta e Christos Nikou.