Jovens adultos: uma geração eternamente dependente dos pais?

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Enquanto jovem adulta, encontro-me na faixa etária mais prejudicada, neste momento, com a crise habitacional em Portugal. Os preços das casas dispararam e a acessibilidade à habitação tornou-se um luxo. É cada vez mais difícil para os jovens conquistarem a sua independência, sendo forçados a permanecer em casa dos pais até mais tarde ou depender financeiramente deles. O sonho de ter um lar próprio, outrora um marco importante da vida adulta, parece cada vez mais distante para nós.

Os dados não mentem. O custo de compra de casa subiu mais de 80% na última década, enquanto os salários aumentaram muito pouco ou permaneceram estagnados. O aumento exponencial dos preços das habitações nos últimos anos, especialmente nas grandes cidades como Lisboa e Porto, tornou praticamente impossível para os jovens acompanharem o mercado. O salário médio em Portugal, que já era insuficiente para acompanhar o custo de vida, é ridículo, quando comparado com os preços de compra ou arrendamento. Adicionalmente, as taxas de esforço exigidas pelos bancos para a concessão de crédito à habitação são inatingíveis para quem tem contratos precários ou rendimentos baixos.

A situação é agravada pela pressão do turismo e pela proliferação de alojamentos locais. Embora esses fenómenos sejam benéficos para a economia em certos aspectos, contribuíram significativamente para a escassez de casas disponíveis para residentes. Isso impulsionou um ciclo vicioso: os preços sobem, o acesso à habitação diminui, e os jovens encontram-se num beco sem saída.

Por consequência, muitos de nós, continuam a viver com os pais até depois dos 20 e 30 anos. Essa dependência, embora seja um alívio financeiro temporário, impede a construção de uma vida autónoma e a experiência de gerir responsabilidades. E não, não se trata de comodismo ou falta de vontade, como ouvimos dizer muitas vezes. Enquanto o estado privilegiar o investimento estrangeiro e se esquecer de nós, nunca vamos ter hipótese.

Não queremos depender dos pais para sempre.  Queremos fazer parte de um Portugal que nos acolha, valorize e nos ofereça oportunidades reais. Não podemos permitir que o futuro do país seja refém de uma crise habitacional que impede os seus cidadãos de prosperarem.

O acesso à habitação não é apenas uma questão económica, mas também social. Quando um número significativo de jovens não consegue aceder a uma habitação digna, estamos a criar um fosso entre as gerações, onde as expectativas de autonomia e de realização pessoal e profissional ficam comprometidas. A falta de condições adequadas para viver não limita apenas as escolhas de vida dos jovens, como também prejudica o seu bem-estar psicológico e social.

Neste contexto, é urgente a implementação de políticas públicas que facilitem o acesso à habitação. Medidas como a construção de habitação pública, o controlo de rendas, a criação de incentivos à compra de casa por jovens, e a implementação de medidas fiscais mais favoráveis.

O acesso à habitação é um direito fundamental, e não deve ser um privilégio só de alguns. Garantir que as futuras gerações tenham a oportunidade de construir um futuro estável e digno passa, inevitavelmente, pela resolução das dificuldades de acesso à habitação. Só assim se poderá criar uma sociedade mais equilibrada e justa para todos.

Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa

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