Incêndios em Portugal: Estamos a ter um déjà vu?

O balanço atual dá conta de 166 vítimas dos fogos, entre feridos e vítimas mortais. Já arderam mais de 121 mil hectares.
Foto via Renascença

Ainda nos recordamos do incêndio mortífero que decorreu em Pedrógão Grande, certo? Foi um dos mais trágicos da história de Portugal, matou 66 pessoas e deixou mais de 250 feridos. Destruiu meio milhar de casas, 261 das quais habitações permanentes e 50 empresas. O fogo deflagrou durante uma onda de calor extrema, agravada por ventos fortes e um ambiente seco, o que levou à rápida propagação das chamas. Várias aldeias foram cercadas pelo fogo, e muitos morreram enquanto tentavam fugir. O desastre levantou questões sobre a gestão florestal e a resposta das autoridades ao combate dos incêndios. Há quem, nos dias de hoje, ainda espere por uma casa nova.

Agora, em 2024, a história repete-se. O balanço atual dá conta de 166 vítimas dos fogos, entre feridos e vítimas mortais. Já arderam mais de 121 mil hectares, sendo as regiões Norte e Centro as mais afetadas. Os incêndios florestais queimaram casas, bloquearam estradas e forçaram evacuações preventivas. O Governo declarou situação de calamidade em todos os municípios afetados pelos incêndios nos últimos dias.

Apesar do cenário de terror que as memórias de Pedrógão Grande, em 2017, não deixam esquecer, o que Portugal tem enfrentado nos últimos dias é mais raro do que a situação que se viveu nesse ano. Quanto aos fatores que contribuíram para esta situação, os especialistas acreditam ter sido a ausência de precipitação que se observou durante o verão; humidade do ar muito baixa; vaga de calor e vente do Leste muito intenso. Estes quatro fatores combinados “levam a uma enorme perigosidade de incêndio”, pois “tendo havido uma primavera bastante chuvosa e com temperaturas amenas, que se prolongou em junho e julho, houve condições para se criar uma grande quantidade de biomassa, que foi stressando ao longo do verão”.

A falta de gestão florestal adequada também contribuí para este problema uma vez que, grande parte da floresta portuguesa é composta por eucaliptos e pinheiros, espécies altamente inflamáveis. A dispersão de habitações em áreas rurais e a falta de criação de zonas de contenção entre florestas e aldeias são problemas estruturais que também não têm sido devidamente resolvidos.

O êxodo rural ao longo das últimas décadas levou ao abandono de muitas terras agrícolas e florestais. Sem a devida manutenção e limpeza, estas áreas tornam-se mais vulneráveis a incêndios, já que acumulam vegetação seca e material inflamável.

Os incêndios provocados por fogo posto continuam a ser um problema sério em Portugal. Apesar de muitos fogos florestais serem resultado de condições naturais, como temperaturas elevadas e secas prolongadas, uma parte significativa tem origem em ações humanas deliberadas. Em muitos casos, são motivados por conflitos, interesses económicos ou atos de vandalismo.

Há uma necessidade urgente de uma ação mais eficaz para lidar com esta crise que se repete como um ritual anual sombrio. Por todas as vítimas mortais, por todas as habitações destruídas, por todos os profissionais que metem em risco a própria vida, pelo nosso planeta.

Mais uma vez, percebemos que não há, no país, reforço para acorrer aos grandes incêndios. Um problema que surgiu com os fogos do outono de 2017, mas uma lição que o país ainda não aprendeu. Portugal pediu ajuda aos parceiros europeus, oriundos de França, Itália e Espanha para ajudar a combater os incêndios florestais em várias regiões do país através de meios aéreos. Mais uma vez, somos nós, populares, que vamos para o terreno com baldes de água e mangueiras para ajudar os bombeiros e protegermos as nossas casas. Mais uma vez, somos nós, populares, que temos de comprar comida, água e outros bens essenciais para os bombeiros.

Todos os anos surgem as mesmas questões: Como vamos prevenir estas situações? Que medidas vão ser tomadas? Onde estão a ser gastos os recursos? Onde estão a ser aplicados os impostos que pagamos? Porque é que os incendiários estão cá fora em vez de estarem presos? Como é que, para além de pagarem mal a profissionais que metem em risco a própria vida, nem sequer lhes dão recursos para exercerem o seu trabalho? Promessas leva-as o vento!

Esta sexta-feira, cumpre-se um dia de Luto Nacional decretado pelo Governo em memória das vítimas dos incêndios que atingiram, principalmente, o norte e centro do país. Contam-se cinco vítimas mortais, segundo números oficiais, e 161 feridos, 12 deles graves. A Proteção Civil regista cinco mortos.

Até quando?

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