Festival da Eurovisão 2024 foi palco de união e polémicas
Malmo Eurovision

A 68ª edição do Festival da Eurovisão ficou marcada pela contestação da participação de Israel no concurso, pela expulsão do representante dos Países Baixos e pela proibição de bandeiras não-binárias. No final, foi a Suíça quem venceu. Portugal ficou em 10º lugar.
Malmo Eurovision

Nemo, representante da Suíça, sobressaiu-se logo com o seu carisma e identidade visual, apresentando-se com um casaco exuberante cor de rosa e de saia. Não passou despercebido, nem quis. A canção vencedora, “The Code” conta a jornada de Nemo enquanto pessoa não-binária, isto é, alguém que não se identifica como sendo homem ou mulher. Nemo obteve um total de 591 pontos (365 do júri e 226 do público). Ao receber o troféu disse, emocionado, que esperava que a competição continuasse a incentivar a paz e a dignidade de cada um. O representante da Suíça festejou, mas também deixou duras críticas à organização, apontando a sua hipocrisia. Durante uma conferência, Nemo refere ser “inacreditável” que as bandeiras da comunidade não-binária tenham sido proibidas, confessando ter levado a sua às escondidas.

Nemo
Fotografia Via MSN

A representante portuguesa Iolanda ficou em 10º lugar. Do júri, a canção portuguesa recebeu 139 pontos e apenas 13 foram provenientes do televoto. Durante todo o seu percurso no concurso, também Iolanda apelou à paz, usando um vestido de uma marca palestiniana e as unhas pintadas como se fosse um keffiyeh (lenço palestiniano), apesar da proibição de mensagens políticas durante o evento. A portuguesa Iolanda terminou a sua atuação na final do Festival da Eurovisão com a frase “A paz vai prevalecer”, em inglês. Por ironia ou não, o voto máximo do público português foi para Israel.

Iolanda- representante de Portugal
Fotografia via Notícias ao Minuto

Bambie Thung, da Irlanda, que se absteve de participar do ensaio geral, gritou “o amor vai sempre triunfar sobre o ódio”, antes de abandonar o palco. O francês Slimane terminou sua apresentação com o slogan “Unidos pela música, pelo amor e a paz”. Desde o início desta edição que foram feitos vários apelos para que Israel fosse excluído do concurso devido à guerra contra os Hamas. Acabou por passar à final, mas foi excluído pelos colegas participantes e pela maior parte dos júris. Apesar disso, ficou em segundo lugar no voto do público, em 12.º no dos júris, e em quinto no total. O público parece ter tido apenas em conta o lema do concurso “unidos pela música”, não deixando interferir preferências políticas ou guerras. Por outro lado, não esqueçamos que em 2022, a organização do Festival Eurovisão da Canção excluiu a Rússia de participar no concurso, devido ao ataque contra a Ucrânia. Foi feito um apelo para a expulsão da Rússia na altura e agora contra a participação de Israel, mas desta vez a organização não teve em conta as manifestações feitas desde o início do evento. Já o artista holandês Joost Klei foi expulso de imediato do concurso devido a um alegado incidente entre o cantor e uma funcionária da organização, devido a questões de assédio sexual e moral, mas nada disto foi confirmado. Embora o evento defenda a cultura acima de tudo, este ano a política tomou conta do espetáculo mais “apolítico” da música. Apesar dos esforços das autoridades e da organização para que o espetáculo se realizasse dentro da normalidade, não conseguiram impedir que este festival fosse o mais tenso e “caótico de sempre”, como descreviam vários especialistas da Eurovisão, ainda antes da final. Este é um festival que celebra a música e a diversidade cultural, mas as regras definidas deveriam ser iguais para todos, ou não?

Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa

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