Nemo, representante da Suíça, sobressaiu-se logo com o seu carisma e identidade visual, apresentando-se com um casaco exuberante cor de rosa e de saia. Não passou despercebido, nem quis. A canção vencedora, “The Code” conta a jornada de Nemo enquanto pessoa não-binária, isto é, alguém que não se identifica como sendo homem ou mulher. Nemo obteve um total de 591 pontos (365 do júri e 226 do público). Ao receber o troféu disse, emocionado, que esperava que a competição continuasse a incentivar a paz e a dignidade de cada um. O representante da Suíça festejou, mas também deixou duras críticas à organização, apontando a sua hipocrisia. Durante uma conferência, Nemo refere ser “inacreditável” que as bandeiras da comunidade não-binária tenham sido proibidas, confessando ter levado a sua às escondidas.
Fotografia Via MSN
A representante portuguesa Iolanda ficou em 10º lugar. Do júri, a canção portuguesa recebeu 139 pontos e apenas 13 foram provenientes do televoto. Durante todo o seu percurso no concurso, também Iolanda apelou à paz, usando um vestido de uma marca palestiniana e as unhas pintadas como se fosse um keffiyeh (lenço palestiniano), apesar da proibição de mensagens políticas durante o evento. A portuguesa Iolanda terminou a sua atuação na final do Festival da Eurovisão com a frase “A paz vai prevalecer”, em inglês. Por ironia ou não, o voto máximo do público português foi para Israel.
Fotografia via Notícias ao Minuto
Bambie Thung, da Irlanda, que se absteve de participar do ensaio geral, gritou “o amor vai sempre triunfar sobre o ódio”, antes de abandonar o palco. O francês Slimane terminou sua apresentação com o slogan “Unidos pela música, pelo amor e a paz”. Desde o início desta edição que foram feitos vários apelos para que Israel fosse excluído do concurso devido à guerra contra os Hamas. Acabou por passar à final, mas foi excluído pelos colegas participantes e pela maior parte dos júris. Apesar disso, ficou em segundo lugar no voto do público, em 12.º no dos júris, e em quinto no total. O público parece ter tido apenas em conta o lema do concurso “unidos pela música”, não deixando interferir preferências políticas ou guerras. Por outro lado, não esqueçamos que em 2022, a organização do Festival Eurovisão da Canção excluiu a Rússia de participar no concurso, devido ao ataque contra a Ucrânia. Foi feito um apelo para a expulsão da Rússia na altura e agora contra a participação de Israel, mas desta vez a organização não teve em conta as manifestações feitas desde o início do evento. Já o artista holandês Joost Klei foi expulso de imediato do concurso devido a um alegado incidente entre o cantor e uma funcionária da organização, devido a questões de assédio sexual e moral, mas nada disto foi confirmado. Embora o evento defenda a cultura acima de tudo, este ano a política tomou conta do espetáculo mais “apolítico” da música. Apesar dos esforços das autoridades e da organização para que o espetáculo se realizasse dentro da normalidade, não conseguiram impedir que este festival fosse o mais tenso e “caótico de sempre”, como descreviam vários especialistas da Eurovisão, ainda antes da final. Este é um festival que celebra a música e a diversidade cultural, mas as regras definidas deveriam ser iguais para todos, ou não?
Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa