Há momentos na vida em que a rotina se torna um turbilhão de tarefas que parecem surgir de todos os lados, sem aviso prévio. Levantar cedo, cumprir prazos, compromissos… e, muitas vezes, encontramos-nos a fazer tudo isso não porque queremos, mas porque “temos de fazer”. A sensação de obrigação começa a tomar conta, e, em vez de sentirmos que estamos no controlo da nossa vida, começamos a viver como se estivéssemos apenas a cumprir uma lista de afazeres.
Há algo de muito exaustivo, quase automático, em fazer as coisas por obrigação. Aquela sensação de levantar da cama já a pensar no que precisa de ser feito, mas sem realmente nos conectarmos com o motivo de estarmos a fazer aquilo.
Comecei a perceber que, quando a tarefa tem um propósito claro, mesmo as mais simples, ela torna-se mais leve. Não me refiro a grandes acontecimentos da vida, como um casamento ou a viagem dos nossos sonhos, mas sim às pequenas coisas do dia a dia – aquelas tarefas que muitas vezes encaramos como fardos. Desde cozinhar a arrumar a casa, lavar os dentes ou fazer exercício físico.
Comecei a fazer este exercício de olhar para as coisas com outros olhos, fazer as coisas com mais intenção e não por obrigação ou de forma robótica. E, a verdade, é que tudo tem mais significado, tudo é mais bonito e tudo é feito com mais leveza. Ao arrumar a casa vamos criar um ambiente mais harmonioso, acolhedor e isso vai ter um impacto mais positivo no nosso bem estar. O ato de cozinhar tornou-se para mim algo que me ajuda a relaxar e acalmar. Os cheiros são mais apreciados e o toque é mais sentido.
Claro, isto não significa que tudo na vida possa ser feito com uma grande paixão ou significado, mas dou-me conta de que, quando colocamos intenção nas nossas ações, a perspectiva muda. Passamos a ver o valor do que estamos a fazer, seja no trabalho, nos relacionamentos ou até nos momentos mais solitários de reflexão.
Há dias em que a rotina parece mais pesada e a motivação parece estar a esconder-se em algum lugar distante. Já vivi essa sensação: acordar e não sentir aquele ímpeto de começar o dia. Em momentos assim talvez o que precise seja de me lembrar que o simples ato de me dedicar a algo, com a intenção de fazer algo de bom ou de aprender, é por si só valioso.
É fácil cair na armadilha de fazer as coisas apenas para “cumprir o prazo” ou “não deixar de fazer”. Mas, na verdade, a motivação para qualquer ação significativa nasce da intenção. Quando conectamos o que estamos a fazer com um propósito maior, seja ele pessoal ou coletivo, a nossa atitude muda. Às vezes, essa intenção é subtil, mas faz toda a diferença.
Não se trata de esperar uma grande revelação para mudar de atitude, mas de aprender a dar significado ao que fazemos, independentemente da sua escala. Ao fazer as coisas com mais intenção, passo a viver mais conscientemente, e até as tarefas mais simples ganham um novo valor.
É claro que há coisas que fazemos por necessidade – isso faz parte da vida. No entanto, é possível mudar a nossa abordagem. Ao escolher dar um propósito pessoal, uma razão interna para cada ação, até as obrigações se tornam mais suportáveis e até prazerosas.
Fazer as coisas com intenção não significa transformar tudo num grande projecto de vida ou adicionar complexidade ao que já é simples. É sobre encontrar o significado no quotidiano, no pequeno gesto, na escolha consciente de viver com mais propósito. Essa escolha transforma a nossa maneira de ver o mundo, a nossa motivação e, muitas vezes, até a nossa felicidade.