Do aumento do desemprego em Portugal

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Os recentes dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos ao primeiro trimestre de 2023, revelam que a taxa de atividade da população portuguesa situou-se em 60,8% e a taxa de emprego em 56,4%, mantendo-se inalterada em relação ao 1.º trimestre de 2022. Contudo, o dado mais relevante refere-se à taxa de desemprego. Em Portugal, a taxa de desemprego aumentou para 7,2% no 1.º trimestre de 2023 e a população desempregada aumentou 23,3% face ao trimestre homólogo.

Ora, estes dados não podem deixar de requerer especial atenção, tanto mais que a taxa de desemprego só não será mais significativa porque a saída massiva do nosso país de pessoas em idade ativa prossegue. Neste período pós-pandemia — em que a economia retoma, sem apoios do Estado, a sua atividade — uma tendência para o agravamento do desemprego deverá, a médio prazo, repercutir-se em termos sociais.
Acresce que estes dados revelam um outro grave problema. De acordo com o INE, embora a população ativa tenha aumentado 1,8% relativamente ao trimestre homólogo, a verdade é que a população ativa com o ensino superior recuou de 1787,2 mil pessoas no 1.º trimestre de 2022 para 1684,8 mil pessoas no 1.º trimestre de 2023, ou seja, -5,7%. Ou seja, a população ativa perdeu cerca de 100 mil licenciados. Identicamente, também a população empregada com o ensino superior registou uma variação homóloga de -6,1%, ou seja diminuiu de 1705,8 mil pessoas no trimestre de 2022 para 1601,2 mil pessoas no 1º trimestre de 2023. Isto quer dizer que o esforço de formação ao nível do ensino superior que o país tem feito na última década — uma vez que a população residente com ensino superior passou de 13,9% em 2011 para 19,8% em 2021 — se tem perdido.

Vivemos um tempo em que ganha importância crescente a atenção à evolução do desemprego junto dos nossos licenciados, sendo premente pugnar pelo duplo desígnio de criar e de manter emprego particularmente junto da população licenciada. Ainda de salientar que, segundo estes dados do INE, para a variação homóloga da população empregada contribuíram, nomeadamente, os acréscimos nos agregados das pessoas que completaram, no máximo, o 3.º ciclo do ensino básico (65,2 mil pessoas, ou seja, 3,8%) ou o ensino secundário ou pós-secundário (63,2 mil pessoas, ou seja, 4,3%).

Assim, num país onde a média salarial é baixa, torna-se prioritário responder a este desajustamento e, assim, travar uma eventual tendência para o aumento do desemprego junto dos nossos licenciados, assim como para a consequente emigração massiva destas pessoas. Recorde-se que, de acordo com o Censos de 2021, entre 2021 e 2011, Portugal registou um decréscimo de 2,1% na população residente, sendo que em termos de série censitária “Portugal apenas tinha registado uma redução do seu efetivo populacional nos Censos de 1970, em resultado da elevada emigração verificada na década de 1960”. Os dados do Censos adiantam que, nesta década, em todos os escalões etários até aos 39 anos, se assistiu a um decréscimo da população, com particular incidência no grupo dos 30 aos 39 anos, ou seja, população jovem em idade ativa que não encontra emprego em Portugal.

 

Glória Rebelo

Professora universitária e investigadora

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