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Nas primeiras imagens vê-se um grupo de 12 pessoas a ser retirado de uma carrinha branca, num local remoto da ilha grega de Lesbos. Em seguida o grupo é conduzido a um bote de alta velocidade, que o transfere para um navio da guarda costeira. De cara tapada por balaclavas, os guardas deixam então os migrantes, incluindo um bebé de seis meses, à deriva numa jangada no meio do mar Egeu.

“Não esperávamos sobreviver naquele dia. Quando estavam a colocar-nos no bote, fizeram-no sem piedade”, terá declarado Naima Hassan Aden, uma jovem de 27 anos natural da Somália e mãe do bebé captado pelas imagens de vídeo, divulgadas inicialmente pelo “The New York Times” mas entretanto replicadas em diversos países. O incidente ocorreu a 11 de abril e o grupo de somalis, eritreus e etíopes acabou por ser salvo pelas autoridades turcas.

Há muito havia suspeitas destas práticas, mas até agora só existiam registos no mar alto, onde as autoridades gregas invocam a lei para justificar o afastamento de migrantes indocumentados antes de entrarem no país. As imagens, cuja veracidade e consistência foram avaliadas antes da publicação, mostram uma expulsão sumária em terra, onde as 12 pessoas já tinham chegado e julgavam estar em segurança.

A divulgação do vídeo, apenas dois dias antes das eleições legislativas na Grécia, agitou a reta final da campanha. Mas é provável que noutras geografias, Portugal incluído, passe relativamente despercebida. Pouco importa que esteja em causa território da União Europeia e que o problema, a vergonha, sejam nossos. Anestesiados que estamos pela espuma dos dias, pela telenovela em que transformamos muitos dos nossos problemas mais sérios, pelo excesso de informações instantâneas e de juízos rápidos, corremos o risco de deixar de pensar e de sentir. Desumanizados.

Diretora do JN

//Inês Cardoso

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