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Ainda agora foram criadas e já estão esgotadas as 700 vagas no setor social destinadas a tirar dos hospitais os doentes que permanecem internados depois da alta clínica porque não têm para onde ir. O último barómetro de internamentos sociais, realizado em 2022 pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, dava conta de mais de mil pessoas hospitalizadas sem condições de regressar a casa por falta de retaguarda familiar ou social.

É um problema nacional, com mais expressão nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, e permanente, com agravamento no inverno, altura em que mais idosos são internados devido a infeções respiratórias e outras complicações. Os custos do prolongamento destes internamentos para lá do que seria clinicamente desejável tem consequências a vários níveis. Para os hospitais, que ficam sem camas tão necessárias para os casos agudos, o que contribui para os congestionamentos das urgências. Para o Estado, que tem uma despesa acrescida de cem milhões de euros. Mas, mais importante, para os próprios doentes, que correm sérios riscos de contraírem infeções hospitalares e sentem na pele a dor do abandono.

Culpar as famílias por não cuidarem dos velhos e fragilizados é fácil, mas as famílias estão verdadeiramente desamparadas. Os lares são insuficientes e praticam preços proibitivos para a generalidade dos agregados, o que faz proliferar as estruturas ilegais, muitas sem condições mínimas de salubridade e dignidade. E os serviços de apoio domiciliário estão longe de responder às necessidades de um país cada vez mais envelhecido (um quarto da população tem mais de 65 anos, com uma proporção de 182 idosos por cada cem jovens).

Estima-se em quase 830 mil o número de cuidadores informais em Portugal, sendo que 85% não beneficiam do estatuto de cuidador informal (e do respetivo subsídio), segundo um estudo divulgado no mês passado. Sozinhos, exaustos, sem folgas ou férias, sem vida além de garantir, 24 sobre 24 horas, assistência a quem deles depende para tudo. Cuidadores a precisar urgentemente de apoio – que não existe. Desamparados.

Editora-executiva-adjunta

//Helena Norte

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