Crise, lucro e falta de ética

paula ferreira

Durante a leitura dos jornais de fim de semana deparo com um título que diz “Se os gestores fossem movidos por valores éticos não teríamos a crise que vivemos hoje”. E à cabeça vêm-me de imediato as últimas contas dos bancos portugueses, resultados que nos mostram o imenso paradoxo que são os tempos que vivemos.

As últimas contas, apresentadas a meio do mês, revelam que “os seis maiores bancos portugueses registaram lucros de 617,4 milhões de euros”, no primeiro trimestre, mais do que duplicando os resultados quando comparados com os 303,7 milhões atingidos entre janeiro e março de 2021. Temos ouvido e, sobretudo, temos sentido, estar a viver, outra vez, em crise. Será? Não há como negá-lo. A nossa crise é a riqueza do setor financeiro. E isso é dramático.

Numa altura em que muitos de nós não sabem onde mais cortar para chegar ao fim do mês sem se endividarem ou sem terem de entregar a casa ao banco por não conseguirem responder à subida da prestação provocada pelo aumento das taxas de juro, os bancos anunciam com orgulho lucros mais que milionários, fruto da total insensibilidade em relação aos seus clientes, revelando um comportamento agiota, apenas. É das dificuldades dos portugueses que resulta o bom desempenho da banca. Tal e qual o título com que esbarrei na leitura dos jornais do fim de semana. Agiotas como são, nem sequer refletiram a subida das taxas de juro nos depósitos que os portugueses lhes confiam. E embora os gestores contestem a imoralidade destes lucros, alegando que em Portugal há uma aversão ao lucro e é isso que explica os baixos salários, os números que nos chegam da Europa bastam para desmentir esse argumento. Portugal foi o país europeu em que a margem financeira mais aumentou. E nem por isso os nossos salários cresceram.

Editora-executiva-adjunta

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