O Natal, para muitos, é a época mais aguardada do ano, um período de festas, presentes e, claro, convívio. No entanto, ao longo dos anos, fui-me apercebendo de que o verCdadeiro espírito natalício tem vindo a ser cada vez mais ofuscado por um consumismo desenfreado. Mais do que celebrar o nascimento de Cristo ou a união familiar, o Natal parece ter-se transformado numa corrida a compras e trocas de presentes.
É claro que dar e receber presentes faz parte da tradição natalícia, mas o que me tem incomodado é a forma como o ato de presentear, que antes era uma demonstração de carinho e cuidado, se transformou numa obrigação. A pressão para encontrar o presente perfeito, através de promoções e campanhas que invadem as nossas redes sociais, acaba por transformar o Natal numa maratona sem fim, onde o valor do que se dá muitas vezes é medido pela quantidade ou pelo preço.
Na minha experiência, já houve Natais em que me vi aprisionada por essa lógica. Era como se o valor do presente fosse diretamente proporcional à minha intenção de agradar. No entanto, aos poucos, comecei a questionar: o que é que realmente faz o Natal ser especial? São os objetos, os bens que compramos, ou será o tempo que passamos com as pessoas que mais amamos? A resposta parece simples, mas a prática, como sabemos, é bem mais complexa.
O Natal tornou-se um período em que muitos sentem a obrigação de demonstrar o seu sucesso, seja através de presentes caros ou pela organização de festas grandiosas. Essa pressão muitas vezes leva-nos a gastar mais do que deveríamos ou a acumular dívidas que só irão ser sentidas no ano seguinte. O pior de tudo é que muitas vezes fazemos isso não para agradar quem amamos, mas para nos encaixar nas expectativas que a sociedade impõe.
Além disso, é impossível ignorar o impacto ambiental do consumismo desenfreado. A produção e o desperdício de presentes, embalagens, e até mesmo a comida em excesso que muitas vezes é comprada, têm um custo elevado para o planeta. Numa época em que a sustentabilidade é uma preocupação crescente, penso que é urgente repensarmos o nosso comportamento de consumo no Natal. Podemos, por exemplo, optar por presentes mais sustentáveis, como produtos locais ou recicláveis, ou até mesmo apostar em gestos mais simples, como oferecer o nosso tempo ou criar algo com as nossas próprias mãos. Essas ações, além de mais autênticas, têm um impacto muito menor no meio ambiente.
O consumismo é uma realidade que está profundamente enraizada nas festividades de fim de ano, alimentada por campanhas publicitárias e pelo desejo de pertencimento. É difícil escapar disso, especialmente quando vemos tantas pessoas ao nosso redor a adquirir os mais variados produtos, à procura do “presente ideal”.
O meu convite é que, neste Natal, possamos refletir sobre o verdadeiro significado da data. O consumismo não precisa de ser o centro das nossas celebrações. Podemos, sem dúvida, oferecer presentes, mas talvez seja o momento de dar algo mais valioso: a nossa atenção, o nosso tempo e a nossa presença. Afinal, o que realmente importa são os laços que cultivamos, não aquilo que compramos.
Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa