• Abril 29, 2025
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Celebrar o acessório. Esquecer o essencial

Quando os saudosos militares saíram à rua na madrugada de 25 de Abril de 1974 levavam consigo três D para resolver. Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

Foi, relativamente, fácil resolver os dois primeiros. Com a democratização a PIDE caiu, a censura foi embora e eu posso hoje escrever, livremente, o que penso sem que o lápis azul me trave o pensamento. No segundo D, Descolonizar, as colónias ganharam a sua independência e os povos dos novos países a sua liberdade. Em Portugal, ainda no cumprimento do primeiro D, edificaram-se as necessárias instituições e o país entrou no leque dos países democráticos. Mais tarde, sobre a batuta política de Mário Soares, Portugal juntou-se ao clube da União Europeia. Tínhamos, então a ambição de ganharmos não apenas uma cadeira em Bruxelas e Estrasburgo para os políticos sentarem o traseiro, mas sim conquistarmos pulso económico e edificarmos o terceiro D – de Desenvolver.

Infelizmente este terceiro D ficou para trás e hoje somos um país na cauda da Europa.

De 2000 a 2019 a economia portuguesa estagnou e registámos um crescimento médio anual de apenas 0,5%, afastando-nos de países que a partir de 2004 aderiram à EU, como a Irlanda, Malta, Polónia e Eslováquia.

Isto é o essencial da política portuguesa e era isto que devíamos ver discutido no 25 de Abril de 2023.
Mas não! O que esteve na agenda política do parlamento foi a abstrusa presença de Lula da Silva nas celebrações do 25 de Abril, um clamoroso erro do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, e a inqualificável atitude do Chega.

Neste 25 de Abril de 2023 o Chega registou a sua primeira grande derrota nas ruas e no hemiciclo. No hemiciclo porque, com um protesto mal- educado e pueril, o Chega provocou a unidade de todos os restantes partidos na condenação de uma atitude irresponsável que deixa todos os portugueses envergonhados. Os 339.659 portugueses que se fazem representar no parlamento através do Chega devem pensar, maduramente, neste episódio e retirarem daí as suas conclusões. Acham mesmo que este partido, um dia, está preparado para governar?

E uma derrota, também, nas ruas, porque depois de ter anunciado uma manifestação de muitos milhares de pessoas, o Chega não juntou mais de 200 cidadãos em protesto contra a presença de Lula na Silva na AR.

Tudo isto são episódios políticos à margem do que seria fulcral discutir. O nosso atraso económico, a pobreza de cerca de 3 milhões de portugueses que não têm o essencial para viver. Um 25 de Abril que aconteceu com professores acampados a dormir no Rossio, a aguardar uma resposta do Governo que, inexplicavelmente, não acontece.

O silêncio do governo e de António Costa perante os constrangimentos da sociedade portuguesa começa a ser incómodo. O primeiro-ministro surge para assinalar a descida do IVA na tabuleta dos preços dos supermercados, mas nada diz sobre a manifesta descoordenação de ministros do seu governo em coisas tão estranhas como um parecer que primeiro não podia ser entregue por razões de Estado, depois não existia, em seguida era uma questão semântica e chegou, finalmente, às mãos da Comissão de Inquérito da TAP sabe-se lá em que formatação.

Aproxima-se o 1.º de Maio de 2023. Esperemos que neste dia surjam contributos mais importantes e decisivos para que Portugal e os portugueses e os partidos políticos que os representam comecem a discutir o que é essencial e esqueçam o acessório.

Está por cumprir o terceiro D de Abril. O de Desenvolver, que deve reunir todas as nossas energias, dando um futuro sustentável a Portugal e ao seu povo. Enquanto todos os partidos políticos e os agentes empresariais e sociais não o fizerem Abril não estará completo. E teremos falhado, colectivamente, no que era um dos principais desígnios do 25 de Abril de 1974. È necessário começar a discutir o essencial e esquecer o acessório. Ainda não foi isso que aconteceu neste 25 de Abril de 2023.

 

// António Capinha

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