As sete vidas de um socialista

opiniao

1. Alberto Núñez Feijóo e o Partido Popular (centro-direita) foram os grandes vencedores das eleições locais em Espanha. E são os favoritos para as eleições nacionais de julho. Mas, uma coisa é ser o partido mais votado (parece ser quase inevitável), outra é chegar à presidência do Governo. Seja através da extrapolação dos resultados das regionais e das municipais, seja através das sondagens mais recentes, percebe-se que o PP só conseguirá uma maioria no Parlamento com o apoio da extrema-direita do Vox. Mesmo que o ecossistema político-partidário seja diferente do português, Feijóo tem um dilema parecido com o presidente do PSD, Luís Montenegro, relativamente ao Chega. E a tática do espanhol tem sido similar. Não fecha a porta, mas também não a abre. Ontem mesmo, encenou uma celebração, rodeado de todos os seus barões, incluindo os que dependem da extrema-direita para chegar ao poder, mas fugiu a falar sobre pactos. Diz-se em Espanha que não há pressa. E que o PP fará o que puder para adiar acordos com o Vox para lá de 23 de julho, o dia das eleições nacionais. A posição é equívoca, mas tudo indica que haverá viragem à Direita no Governo de Espanha.

2. Pedro Sánchez é um político que aposta em soluções que parecem desesperadas. Mesmo que esteja encurralado, joga sempre um último trunfo. E não se tem dado mal com isso. Foi de forma heterodoxa que chegou e se manteve no poder no PSOE e no Governo. Um pouco como António Costa, que inventou a “geringonça”. E, no rescaldo da derrota de domingo, voltou a surpreender, antecipando as eleições. O socialista aposta tudo na ameaça de o centro-direita voltar ao poder na companhia da extrema-direita (soa-lhe a algo familiar?), esperando mobilizar, quer o eleitorado de esquerda, quer os centristas. É possível que o PSOE consiga estancar perdas e até reforçar o seu peso relativo no Parlamento. O problema é que o sócio de governação, o Podemos, arrisca ser varrido do mapa. Como escreveu o El País, “as candidaturas de Esquerda transformaram-se numa sopa de letras que competem entre si”. E é pouco credível que o Podemos (com este ou outro nome arranjado à pressa) evite novo desaire. Em julho, veremos se Sánchez já esgotou as suas sete vidas.

*Diretor-adjunto

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