As pontes somos nós

pedro ivo carvalho

Muito mais do que uma metáfora, o exercício de construir pontes deve ser assumido como uma inevitabilidade prática. Pontes entre os homens e mulheres, pontes entre os diferentes interesses e inquietações que os assolam, pontes entre os territórios de um país que, sendo pequeno, continua a ficar longe, muito longe, da homogeneidade. Criar pontes, como a da Ferreirinha, cujo nome o JN ontem anunciou, por ocasião dos seus 135 anos, é muito mais do que uma realização bem-intencionada que ajuda a adornar discursos. E, no entanto, devemos olhar para este que devia ser um exemplo do normal relacionamento entre instituições em torno de um objetivo comum como um desígnio que é urgente replicar.

Após uma votação histórica que envolveu milhares de cidadãos, um jornal, duas cidades vizinhas, um Governo e uma empresa de transportes, foi batizada uma nova travessia na segunda região mais populosa do país. Parece simples e óbvio, mas não tem sido assim. Demasiadas vezes os umbigos de quem gere a coisa pública se têm revelado maiores do que o corpo que os acolhe.

A ponte da Ferreirinha é a prova cabal de que nesta “região de redes”, como tão apropriadamente a caraterizou o presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, ainda é possível olhar para a realidade e pensar que, apesar das nossas diferenças, somos “uns e outros e não uns contra os outros”. Ou, como depois ilustrou Rui Moreira, autarca da margem direita do Douro, referindo-se à forma desprendida como deve ser encarada a circunstância de essa malha urbana acordar e deitar-se embalada pelo rio Douro, “como não voamos, usamos pontes”.

Não havia melhor forma de assinalar os 135 anos do “Jornal de Notícias”: envolvendo a comunidade para melhor a servir. As pontes que nos conduzem à democracia plena permanecem as mesmas: nós. Essas pontes somos nós.

*Diretor-adjunto

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