• Abril 20, 2025
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A direita democrática sai da cova?

Meses antes das Eleições de 2018, em que Jair Bolsonaro bateu à segunda volta Fernando Haddad, do PT, o candidato favorito era, segundo boa parte da imprensa e algumas sondagens, Geraldo Alckmin, então no PSDB, de centro-direita.

Alckmin, político experiente acabado de deixar o governo de São Paulo com boa avaliação, tinha muito mais tempo de antena na rádio e na televisão do que os adversários por encabeçar uma coligação com nove dos principais partidos brasileiros. No entanto, por múltiplos fatores, entre os quais, desde logo, a derrocada da influência dos media tradicionais, mais a Lava Jato, mais o trumpismo tropical e outros, Alckmin não chegou a 5%.

O mesmo PSDB que governou o Brasil por oito anos, sob a liderança de Fernando Henrique Cardoso (FHC), que obrigou o PT de Lula da Silva e Dilma Rousseff a apertadas segundas voltas em quatro eleições seguidas e que, quatro anos antes, alcançara, via Aécio Neves, 51 milhões de votos, desaparecia do mapa eleitoral.

Entretanto, FHC, recluso aos 92 anos, deixou de dar as entrevistas que pautavam o pensamento do centro-direita. José Serra, 81, duas vezes segundo mais votado em Presidenciais, abandonou a política. Aécio, submerso em escândalos, idem, embora ele, hoje travestido de bolsonarista, ache que não. Alckmin, após o fiasco de 2018, saiu do partido para ser candidato a vice de Lula em 2022. E a nova geração do PSDB, mesmo realizando Primárias para parecer muito americana e muito moderna, acabou por nem ir a votos no ano passado.

No meio dos destroços do partido, uma parcela importante da população brasileira que abomina tanto Lula como Bolsonaro, ainda tentou encontrar “uma terceira via” mas, dos nomes lançados, Luciano Huck preferiu continuar a fazer TV, Luís Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, nem senador no Mato Grosso do Sul se conseguiu eleger, e Sergio Moro já é hoje, além de ex-juiz e de ex-ministro, praticamente um ex-político.

A representante da tal “terceira via” foi a discreta senadora Simone Tebet, do MDB, entretanto aglutinada por Lula, a quem serve como ministra do Planeamento.

Sem FHC, sem Serra, sem Aécio, sem Moro, sem Alckmin, sem Tebet, sem candidato, sem votos, sem nada, a centro-direita, ou direita democrática, como é classificada no Brasil a direita que o PSDB representava para se distinguir da direita psiquiátrica representada por Bolsonaro e seus derivados, está, portanto, enterrada sete palmos e meio abaixo de terra.

Após a inelegibilidade de Bolsonaro, porém, voltou a crer na ressurreição da carne e na vida eterna.

Vai, entretanto, precisar de muita fé: fé que Lula e Haddad, hábil a lidar com os mercados como ministro das Finanças, não tenham seduzido amplos setores da tal direita democrática, como antes seduziram Alckmin ou Tebet; e fé que a direita psiquiátrica, com apoio evangélico, militar e latifundiário, não se deixe arrebatar por um bolsonarista qualquer apoiado pelo original; fé, em suma, no fim, improvável, do duopólio eleitoral dos últimos anos.

Não há muito espaço, nem muita esperança, mas, como naqueles filmes de terror baratos que querem abrir caminho a uma sequela nos cinemas, às vezes, na última cena, de dentro de uma cova surge uma mão.

 

 

 

Jornalista,
correspondente em São Paulo

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