
De acordo com um relatório do ‘fact-checking’ espanhol Maldita e da agência de investigações digitais AI Forensics, esta desinformação “causou pânico e criou desafios para as equipas de emergências” e “minou ou mesmo negou explicitamente” o papel das mudanças climáticas na inundação.
O relatório refere que a desinformação “é um bom negócio para plataformas que lucram com o envolvimento do utilizador”, destacando que o YouTube e o Tiktok “amplificaram algoritmicamente” as falsidades sobre a inundação.
No YouTube, o conteúdo falso acumulou 13 milhões de visualizações e tinha mais 48% de hipóteses de ser ‘gostado’ e 123% mais possibilidades de receber comentários, face ao conteúdo preciso e informativo.
Os vídeos falsos receberam quatro vezes mais visualizações do que um vídeo médio da mesma plataforma.
No TikTok, a desinformação teve 85% mais hioóteses de ser compartilhada, vista mais de 8,3 milhões de vezes no mês seguinte ao incidente.
“Os algoritmos de recomendação do YouTube e do Tiktok são projetados para amplificar o conteúdo para maximizar o envolvimento do utilizador e, como resultado, são conhecidos por recomendar conteúdo que provoca fortes reações nos utilizadores”, lê-se no relatório.
Neste sentido, os autores sugerem que o conteúdo desinformativo recebeu mais amplificação do que a informação factual e informativa.
Apesar disso, as políticas do Tiktok referem proibir “desinformação que negue a existência da mudança climática, deturpe as suas causas ou contradiga o seu impacto ambiental estabelecido”.
Contudo, os investigadores alertam para que o Tiktok não rotulou conteúdo que continha desinformação climática, apesar de a plataforma entender que “também pode aplicar rótulos de advertência” a vídeos falsos.
Já o YouTube não tem uma política específica para lidar com a desinformação climática, mas compromete-se a “fornecer aos utilizadores ferramentas para ajudá-los a tomar decisões mais informadas quando encontrarem informações ‘online’ que possam ser falsas”.
No entanto, menos de um em cada quatro vídeos com conteúdo desinformativo sobre as cheias recebeu um rótulo de advertência do YouTube.
Em 29 de outubro de 2024, uma “gota fria” ou DANA, como é conhecida em Espanha uma “depressão isolada em altos níveis”, formou-se no sul da Península Ibérica e gerou chuvas de grande intensidade e concentradas, sobretudo, no interior da região de Valência, onde foram medidos níveis de queda de água em 24 horas com valores dos mais elevados desde que há registo na Europa.
A água, em grandes quantidades, acabou por descer em direção à costa mediterrânica por barrancos e ribanceiras e invadiu, no final da tarde, estradas e ruas de vários subúrbios da cidade de Valência, uma das zonas com maior densidade populacional de Espanha.
Morreram nas inundações e no temporal 229 pessoas na região autónoma da Comunidade Valenciana, sete numa zona vizinha da região de Castela La Mancha e uma na Andaluzia (sul de Espanha), segundo dados oficiais.
Em Valência, a região no epicentro da tragédia, o temporal afetou uma área de cerca de 553 quilómetros quadrados de 75 municípios e 306 mil pessoas.
Segundo o governo autonómico, as cheias causaram danos de pelo menos 17.800 milhões de euros em habitações, infraestruturas de abastecimento e transporte, parques naturais e zonas protegidas, escolas, centros de saúde, equipamentos sociais e culturais ou 64.100 empresas, entre outros setores.
As cheias em Valência ficaram também marcadas por problemas de comunicação devido à falta de coordenação entre autoridades, que demoraram a emitir alertas por SMS e inicialmente recusaram ajuda do governo central.
A população também criticou a falta de prevenção e de ordenamento territorial.

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