Eu não quero ser velha

Eu não quero ser velha
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Eu não quero ser velha porque a pressão para manter a juventude eterna está em todo o lado: cremes antienvelhecimento, cirurgias plásticas, dietas milagrosas e até tratamentos que prometem reverter os sinais do tempo. Parece quase inaceitável envelhecer de forma natural, o que é também um desrespeito para com o nosso corpo, que passou por tanto.

A negação coletiva do envelhecimento não se trata apenas de vaidade pessoal, é um reflexo de uma sociedade que valoriza superficialmente o que é novo, rápido e esteticamente perfeito. A juventude foi transformada num ideal inalcançável e eterno, um troféu que deve ser mantido a qualquer custo.

Não é de admirar que, para muitas pessoas, os primeiros sinais de envelhecimento (rugas, cabelos brancos) sejam vistos como inimigos mortais que precisam ser combatidos com todas as armas disponíveis em vez de apreciar as rugas como marcas de uma vida vivida ou de considerar o envelhecimento como parte natural da experiência humana.

Envelhecer parece ser visto como uma derrota, e o envelhecimento do corpo, uma punição que só as mais fortes, mais determinadas e disciplinadas conseguem evitar. Parece que a sociedade não quer que as pessoas velhas existam.

A cultura popular, especialmente a media, é saturada de imagens de corpos jovens e vigorosos. As indústrias do entretenimento e da moda se concentram quase exclusivamente em jovens. As pessoas idosas, quando aparecem, são muitas vezes estereotipadas como fracas, lentas, desatualizadas — como se não tivessem mais nada de valioso a oferecer.

“Eu não quero ser velha” é mais do que um simples desejo de manter a aparência; é um reflexo de um medo profundo de perder importância e espaço numa sociedade que adora o novo e despreza o antigo.

A indústria do “antienvelhecimento” é um dos setores que mais cresce, oferecendo de tudo, desde injeções de botox até suplementos “milagrosos”. A juventude virou um produto, vendido e comprado por quem pode pagar o preço — um investimento emocional, financeiro e, muitas vezes, doloroso.

É como se a velhice fosse um fardo pessoal, algo que só ocorre a quem “não se cuidou o suficiente”. Essa rejeição à velhice faz-nos esquecer de algo essencial: a sabedoria que vem com o envelhecimento. Se envelhecer significa adquirir experiências, aprender e educar, por que vemos isso como uma coisa negativa? Procuramos uma juventude exterior quando tudo o que importa são os relacionamentos, as memórias, as aprendizagens e as experiências.

Vivemos num ciclo constante de tentar parecer mais jovens, gastando recursos e energia para “voltar atrás” no tempo, quando, na verdade, o tempo que passamos tentando nos manter jovens nos impede de aproveitar o presente.

Envelhecer não deveria ser uma vergonha, mas sim uma celebração da jornada humana. Enquanto continuarmos a satirizar e a negar o envelhecimento, estaremos presos numa procura sem sentido pela juventude eterna, esquecendo o que realmente significa estar vivo.

Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa

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