Há mortes que nos abalam mais do que outras. Talvez porque acontecem demasiado cedo, talvez porque parecem absurdamente evitáveis. Muitas pessoas tinham planos para o dia seguinte: algumas iam a caminho do trabalho, outras, talvez, nem chegaram a despedir-se. Em todos os casos, ficaram famílias destroçadas, amigos em choque e perguntas sem resposta.
Quantas dessas mortes poderiam ter sido evitadas?
O excesso de velocidade continua a ser uma das principais causas de acidentes rodoviários em Portugal. Vivemos numa sociedade em que tudo corre — o tempo, as obrigações, as ambições — e acabamos por levar essa pressa connosco para o volante. Acreditamos que temos controlo, que “sabemos o que fazemos”, que “é só um bocadinho acima do limite”. No entanto, na estrada, um único segundo é suficiente para mudar tudo, para tirar uma vida ou várias.
Os carros atuais são mais potentes do que nunca. Basta um toque no acelerador para duplicar a velocidade permitida. Apesar disso, os radares e as campanhas de sensibilização continuam a ser vistos, por muitos, como castigos — e não como medidas de proteção.
Fiscalizar é importante, sim. Ainda assim, o mais urgente é mudar mentalidades.
Conduzir não é apenas uma competência técnica é, acima de tudo, um ato cívico. Cada vez que alguém se senta ao volante, faz uma escolha: respeitar a vida ou arriscar tudo, por orgulho, distração ou impaciência.
Infelizmente, muitos ainda encaram o carro com uma extensão do ego. Usam a estrada para se afirmarem ou, pior, como válvula de escape para frustrações. É nesse momento que se perde o controlo, mesmo quando tudo parece estar seguro.
O impacto de um acidente vai muito além do momento do embate. Arrasta luto, traumas, processos judiciais, dívidas, incapacidades físicas, carreiras interrompidas. Tudo isto porque alguém acreditou que podia ir mais depressa. Achava-se que atender ao telemóvel não faria diferença, que o cansaço não era assim tão grave e que os limites eram apenas sugestões.
Este tema precisa de ser falado com mais regularidade, seja nas escolas, nas empresas ou nas famílias.
Conduzir não é um direito absoluto — trata-se de um privilégio e todo o privilégio exige responsabilidade.
Quando o erro acontece, já é tarde demais para travar.
Lícia Alves — Comunidade Lusa
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