• Setembro 15, 2025
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Salário mínimo garante apenas refeições mínimas às famílias angolanas

Com um agregado composto por oito filhos, António Rodrigues Cahassa, técnico de eletricidade de uma empresa privada em Luanda, diz ter um salário de 70.000 kwanzas (64 euros) e vive dias dramáticos para garantir o sustento da família durante trinta dias.

Residente no Bairro do Dangereux, zona pobre junto à zona nobre de Talatona, sul de Luanda, Cahassa vive numa casa precária, com apenas dois quartos e uma sala, onde falta quase tudo, contou à Lusa o drama que vive, referindo que está a sobreviver apenas “graças Deus”.

Pouco ou nada consegue fazer com o salário que aufere, como descreveu, referindo que o atual custo de vida do país, sobretudo dos produtos da cesta básica, tornou os salários cada vez mais desvalorizados, lamentando também a falta de serviços essenciais na zona onde vive.

“Do jeito que está o custo de vida, temos as crianças a estudar no ensino privado porque esse bairro tem apenas uma escola estatal (…) então fica muito complicado com esses 70.000 kwanzas sustentar a família”, atirou.

Pelo menos 18.000 kwanzas (16 euros) é quanto esta família gasta mensalmente só para comprar água, dada a falta de água da rede pública na zona, a que se juntam os gastos com a escola de quatro filhos, todos no ensino privado, e o restante serve para alimentação.

A família faz apenas duas ou três refeições nos primeiros dias da semana em que o António Rodrigues Cahassa recebe o salário, sendo que nos dias seguintes, filhos e pais enfrentam carências para ter uma refeição regular.

“Nós só conseguimos alimentar-se mais ou menos bem no dia em que você recebe o salário, dois ou três dias depois já não temos nada. Por causa disso, tem de se pagar propinas, temos energia no bairro, mas não temos água [corrente] e gastamos muito na compra]de água”, disse.

Conforme contou à Lusa, na semana em que António recebe o salário, a família consegue comer alguma proteína juntando cabuenha (peixe seco miúdo) e feijão ao funge (papa que é a base da alimentação angolana) de milho com rama.

A partir daí, é papa de fuba de milho com açúcar de manhã que mata a fome da família e “de noite o que aparecer”.

Para o eletricista de profissão, que não sabe se estará abrangido pelo novo salário mínimo nacional em Angola, que a partir de 16 de setembro estará fixado em 100 mil kwanzas (92 euros), os novos valores são “insuficientes” face ao atual custo de vida no país.

“Dizem que o salário vai subir, mas não sabemos se todos nós vamos abranger. Pedimos que os órgãos de direito procurem fiscalizar as empresas para que todo mundo seja abrangido, não sei se a nossa empresa vai cumprir ou não”, observou.

Falando no interior do seu quintal, em volta dos filhos e de três cadeiras de plásticos partidas, as únicas para acomodar quem visita a sua residência, Cahassa diz que os salários praticados no país “afligem” várias famílias.

Além disso, teme que com a subida do salário mínimo nacional o preço dos bens da cesta básica também aumente no mercado.

“Mesmo que subir a 100 mil kwanzas é uma gota no oceano”, afirmou.

Com um rendimento “precário” para cobrir as despesas com a família, o angolano natural da província Uíje disse ter todos os projetos de vida adiados, inclusive a pretensão de regressar à terra de origem para “recomeçar a vida”, por falta de possibilidades financeiras.

Contou ainda que a mulher tem um negócio incerto, sem condições para ajudar nos gastos de casa, alimentando, contudo, o sonho de ver os filhos formados, apesar das dificuldades para enquadrar alguns dos filhos no sistema público de ensino.

Questionado sobre as atuais políticas do governo, Cahassa disse que estas não são inclusivas, sobretudo para os mais carenciados, defendendo que o executivo deveria começar por reduzir o preço da cesta básica e investir na educação e formação profissional.

“Nós, a comunidade angolana, somos uma população cristã, vivemos rogando a Deus, e graças a Deus temos vivido com esse bocado [de salário] que ganhamos”, rematou o chefe de família.

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