Na apresentação das conclusões da reunião do Comité Central do PCP, na sede nacional do partido, em Lisboa, Paulo Raimundo defendeu que “o Governo não pode ficar calado e quieto” face aos aumentos das taxas de juros decididas, considerando que não são suficientes as críticas de António Costa feitas em Bruxelas.
“O senhor primeiro-ministro levantou a voz, mas isso de pouco vale se não forem tomadas medidas concretas. Até foi uma voz levantada com alguma contradição”, disse.
António Costa afirmou na quinta-feira que “não tem havido compreensão suficiente” do BCE sobre a natureza do ciclo inflacionista, defendendo que “hoje é mais ou menos claro que sobretudo o aumento dos lucros extraordinários têm contribuído mais para a manutenção da inflação do que as subidas salariais”.
O líder comunista manifestou-se de acordo com esta análise e desafiou o primeiro-ministro a ser consequente e a fixar preços de bens e serviços essenciais e a aprovar a proposta do PCP para que, tal como no tempo da pandemia, se crie uma moratória no crédito à habitação por um período máximo de dois anos em que as famílias paguem apenas juros, à taxa a que os bancos se financiam.
“As afirmações ou são da boca para fora ou têm de ter consequências, se não tiverem vamos deixando de acreditar. O PS e o Governo socialista têm a oportunidade agora de aprovar as nossas propostas, no quadro do pacote ‘Mais Habitação’, que materializam a suposta discordância com o BCE”, desafiou.
O secretário-geral do PCP manifestou também a expectativa de que possam ser aprovadas as medidas que o partido leva a discussão e votos na próxima sexta-feira, num agendamento potestativo, num diploma que visa baixar os impostos sobre trabalhadores e reformados, aumentar a tributação dos grupos económicos por via dos benefícios fiscais e reduzir o IVA na eletricidade, gás e telecomunicações.
“Veremos como outros, que todos os dias falam de impostos, se comportarão na discussão e votação das propostas do PCP”, desafiou.
Na área da habitação, além da proposta da moratória, o secretário-geral do PCP considerou também que o Estado deve assumir um papel central numa renegociação mediada dos créditos à habitação entre particulares e banca, bem como fixar para a Caixa Geral de Depósitos um ‘spread’ máximo obrigatório de 2,5%.
Na sua intervenção inicial, Paulo Raimundo reiterou que “a propaganda dos bons resultados da economia não tem correspondência com as condições de vida da maioria da população” e apelou à “intensificação da luta” dos trabalhadores.
“Todos os meios e instrumentos do grande capital (políticos, económicos, mediáticos) são mobilizados para consolidar o seu poder e garantir que o máximo a que se pode aspirar é a uma alternância de caras ou partidos”, criticou.
No comunicado saído do Comité Central, vinca-se que o partido recusa “inevitabilidades ou chantagens, sejam as de eventuais dissoluções e antecipação de eleições, sejam de agigantamento de perigos para fazer sobreviver a política de direita”.
O Comité Central do PCP esteve reunido desde sexta-feira para analisar a “situação política e social” e as tarefas do partido, naquela que foi a terceira reunião deste órgão desde que Paulo Raimundo tomou posse como secretário-geral.
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