Estamos a dias de comemorar mais um 10 de Junho a que pomposamente chamamos de “Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas”. Deveria ser mais uma oportunidade para pensar sobre o país, em que estado estamos e que objectivos temos a curto, médio e longo prazo.
Mas enquanto tivermos partidos políticos que não reflectem sobre o país nem apresentam caminhos para sairmos dos últimos lugares dos rankings que integram os Estados da União Europeia, vamos seguindo nesta pobre apatia e sem perspectivas de futuro. Os políticos e a comunicação social, ambos impulsionados pelas redes sociais, preferem continuar a discutir temas marginais dos interesses das populações, preferem continuar a discutir temas que possam polarizar campos políticos, preferem continuar a discutir temas que alimentem audiências e visualizações.
Que Portugal fomos, que Portugal somos e que Portugal queremos? Esta nação com quase 900 anos de História tem futuro? Que projecto é este: Portugal? Falamos várias vezes do projecto europeu, se faz sentido, se pode evoluir… E o projecto português? Faz sentido? Pode evoluir? Entre o século XII e o século XIV fundámos a nação e consolidámos as nossas fronteiras continentais, com uma brutal peste negra pelo meio. Do século XV ao século XX criámos e mantivemos um império, do qual nos alimentámos, desenvolvendo pouco a metrópole. Neste século XXI já não temos que consolidar nem aumentar território, nem império para manter.
Que objectivo temos para o projecto Portugal neste século XXI? Ou, por outras palavras, que desígnio temos hoje que nos faça batalhar por um futuro colectivo? Os actuais partidos políticos não nos apresentam nenhum. Não é por acaso que há uma larga faixa de pessoas que não quer saber da política nem dos políticos. E que está desesperada e passou a dar atenção aos populistas e a quem grita mais alto. E parte destes descontentes até se dá ao trabalho de ir até às urnas para fazer o seu voto de protesto em quem apresenta ideias extremas.
Mas há um desígnio pelo qual vale a pena batalhar em Portugal e no resto da Europa: o da democratização e integração política das instituições europeias. Esse é o principal caminho que os partidos e os políticos responsáveis devem apontar. Com determinação, com coragem, com pedagogia. É desesperante ver partidos como o PS e o PSD embrulhados em fait-divers, em trapalhadas, em narrativas de curto prazo, em tácticas para aproveitar a existência de um player político extremista… em vez de serem os faróis na luta por uma Europa mais politicamente integrada.
Sim, é verdade que é um desígnio que não depende apenas de nós em Portugal. É um desígnio que tem de ser partilhado e que vai demorar o seu tempo. Mas podemos ter esse objectivo. Por nós, pelos nossos filhos, pelos nossos netos. E enquanto isso, devemos lutar por ter um Portugal menos desigual, um Portugal com melhores salários, um Portugal menos dependente do turismo, um Portugal com mais indústria, um Portugal com melhor agricultura, um Portugal com habitação acessível, um Portugal com melhores serviços públicos, com melhor educação e melhor saúde.
Sem Europa este objectivos, simples de dizer e complicados de concretizar, são uma ilusão. Mas temos de fazer o trabalho de casa. Com melhor governação, com melhor oposição, com menos barulho mediático e com menor atenção às narrativas extremistas. É tempo de lutar por um desígnio maior, é tempo de lutar pelo nosso futuro.
Tiago Matos Gomes
Presidente do movimento Partido Democrata Europeu
(O autor escreve de acordo com a antiga ortografia)
