• Junho 29, 2025
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O pecado original dos comentadores

Na política, todas as notícias sobre mortes e ressurreições são manifestamente exageradas. A melhor forma de lidar com o fenómeno é nunca fazer afirmações definitivas mas, para os analistas, a tentação de matar e ressuscitar os seus contemporâneos políticos está ao nível da maçã para Adão e Eva. Talvez seja, até, um pouco mais arriscado, porque se trata de desnudar os outros, substituindo-se ao omnipotente, e não apenas deixar a nu as nossas fragilidades, como fizeram os primogénitos.

Com políticos ambiciosos, dotados de uma inteligência superior à média dos seus pares, bastante mais carismáticos que os seus adversários diretos, a obrigação dos comentadores mais experimentados é cheirar ao longe a tanatose. Olhando para o momento em que se deixou humilhar com a revogação do despacho do novo aeroporto ou relendo o comunicado em que reconstruiu a verdade sobre o seu agreement à necessidade de apaparicar Alexandra Reis, na saída da TAP, percebe-se a tentação de declarar o óbito político de Pedro Nuno Santos. Mas o ponto agora é outro e o anúncio da sua ressurreição pode ser tão exagerado como o da sua morte.

Na bolha mediática e política, sedenta de carisma, ansiosa por ter alguém que faça frente a Costa, contagiada pela felicidade e otimismo do protagonista, parecem favas contadas. Mais ainda quando a comparação direta é feita com um adversário interno a quem falta carisma, que gera desconfiança e “infeta” a bolha com pessimismo em defesa das contas certas. Se um nos diz que a TAP está a dominar o espaço e o outro nos avisa para o longo caminho que falta percorrer em terra, em que nos apetece acreditar? Não se trata de saber onde se encontra a verdade, mas de quem está mais perto de dizer aquilo que queremos ouvir.

É consensual a ideia de que Pedro Nuno Santos sobreviveu à fase em que teve de fazer de morto, saiu-se bem no regresso à comissão de Economia e à CPI, e voltou a gerar a expectativa de que, muito provavelmente, será ele a suceder a António Costa na liderança do PS. Pelo apagão que se vive no PSD, faz caminho a ideia de que até para a liderança do governo a verdadeira alternativa não é o líder do maior partido da oposição, mas o líder da oposição dentro do maior partido. Não se trata de uma oposição ativa, mas é ele que alimenta o sonho de muitos socialistas de terem um governo mais à esquerda.

Mas o que será que o futuro nos reserva? Vem do fim de semana a notícia de que António Costa parou em Budapeste a caminho da Moldova. Disse que foi para ver a bola e para apoiar Mourinho, outros dizem que foi para ver como param as modas e procurar apoio do Orbán. A Pedro Nuno não dá muito jeito que antecipem os calendários. Nem por causa de Costa ir mesmo para a Europa, nem para ficar por cá para disputar mais umas legislativas. Não tendo morrido politicamente, também não se pode dizer que ressuscitou. Esteve quase morto, mas está a sair do recobro. Ainda é cedo para saber se o partido e o país o perdoaram ao ponto de o querer a liderar o destino coletivo.

P.S. A utilização do Falcon para ir ver um jogo de futebol, seja para dar um abraço a Mourinho, seja para dar um abraço a Viktor Orbán, não é apenas mais um casinho. Como bem lembra Miguel Poiares Maduro, “num Estado sério um PM usar um avião do Estado para um evento fora da sua agenda pública era o fim do percurso político desse PM…” Mas isso era se vivêssemos num país a sério. Por cá, temos o Presidente a perguntar: “Mas qual é o problema?”

 

Paulo Baldaia

Jornalista

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