Todos os verões, Portugal assiste à repetição de uma tragédia anunciada: florestas que desaparecem, populações em sobressalto, bombeiros no limite e imagens de devastação a marcar os noticiários.
Em 2025, a primeira semana de agosto confirmou este padrão, com milhares de hectares consumidos pelas chamas e concelhos em estado de emergência. Perante isto, a pergunta impõe-se: até quando vamos aceitar o fogo como parte inevitável do verão?
É verdade que as condições meteorológicas estão extremas. As ondas de calor são persistentes, a chuva escassa e os ventos fortes. Tudo isto cria um cenário altamente inflamável. A natureza mostra-nos os efeitos das alterações climáticas de forma cada vez mais brutal e evidente. No entanto, se é fácil culpar o clima, mais difícil e urgente é encarar o papel humano: o fogo posto, mas também a negligência, o abandono rural e a falta de ordenamento florestal.
A verdade é que, ano após ano, pouco muda. Continuamos a discutir medidas depois da tragédia, em vez de as implementar antes. Falta-nos uma verdadeira cultura de prevenção, visível em comportamentos que continuam a pôr tudo em risco. Ainda se utiliza o fogo de forma irresponsável, mesmo em dias de alerta vermelho e, a sensibilização, sobretudo nas zonas mais expostas, continua fraca ou ausente.
Precisamos de uma mudança de atitude coletiva. Agir com base no conhecimento, na ciência e na responsabilidade. Exigir políticas públicas consistentes, fiscalizações eficazes, mas também assumir a parte que nos cabe — na limpeza, na denúncia, na vigilância, na educação.
Ver Portugal a arder todos os verões não pode ser normal e não deve ser inevitável. É uma ferida que se abre todos os anos, mas que teimamos em não tratar na origem.
Lícia Alves – Comunidade Lusa
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