• Abril 18, 2025
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O futebol não é para meninas?

A desigualdade de género é uma realidade difícil de mudar em todas as áreas, mas no futebol está ainda na pré-história, no momento em que os homens decidiram remeter as mulheres para a cozinha, considerando-as demasiado frágeis para caçar. No futebol, quando se quer justificar a violência e diminuir o adversário, diz-se que “o futebol não é para meninas”, acusa-se a vítima, dando ao agressor o estatuto de “macho”, como se fosse um herói que sabe “dar pau”. No futebol masculino, na maioria dos casos, as mulheres dos jogadores são tratadas como adereços ou como troféus. Pelos próprios jogadores, por dirigentes e por muita comunicação social.

Como não é possível travar o vento com as mãos, o feminismo começa a chegar ao futebol. Importa fazer aqui um esclarecimento para os muitos que vieram diretamente do Paleolítico para o tempo de hoje: o feminismo trata de promover a igualdade entre homens e mulheres, igualdade de direitos e deveres. Não trata de fazer com que as mulheres passem a ter o poder dos homens para se poderem vingar de milénios de opressão.
O “falso feminismo” a que alude Luís Rubiales, presidente suspenso da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), é apenas desculpa de mau pagador. Não sendo possível imaginar esta instituição, num futuro próximo, presidida por uma mulher, temos de acreditar que algum dia isso vai acontecer. E, nesse dia, quando a Espanha voltar a ser campeã do mundo, por certo ninguém aceitará que a presidenta beije na boca a/o capitã(o) de equipa, já depois de ter colocado as mãos nos genitais para sinalizar o seu poder. E menos se compreenderá que, depois de ter este tipo de comportamento, dispare como disparou Rubiales contra os seus críticos: “um dos principais flagelos do país”. O presidente da RFEF não tem a mínima noção da gravidade dos seus atos e acha que o problema está nos que criticam o machismo e a misoginia.

O movimento em Espanha mostra-se imparável, a sociedade parece disposta a dizer basta contra comportamentos que em nenhuma circunstância devem ser tolerados. O governo de Sanchez quis entrar no jogo. Se noutras alturas esteve disponível para caminhar ao lado de uma elite federativa pouco recomendável, desta vez colocou-se de imediato do lado certo. Por cá, o nosso governo e o nosso Presidente vivem colados aos êxitos da bola e a passar o lustro aos seus dirigentes sem nunca se preocuparem com os maus exemplos que chegam desse lado, como se viu recentemente com os contratos de Fernando Santos e Roberto Martínez. Nem uma só palavra de exigência foi ouvida sobre a matéria, a respeito de uma entidade com estatuto de utilidade pública e que goza de benefícios fiscais.

Acontece que em Espanha já perceberam que o Mundial de 2030 acabará por ir pelo cano se não forem colocados os pontos nos “is” no caso Rubiales. Não é diretamente connosco, mas não nos passa ao lado. António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa têm de assumir que foi com estes espanhóis e não com outros que Portugal, ao lado de Marrocos (rica companhia em matéria de igualdade de género) e Ucrânia (cereja em cima do bolo), se apresentou disponível para realizar o campeonato do mundo de futebol.

Não vale tudo. Calar é consentir e aceitar conformado que o futebol vive no tempo do paleolítico é participar dessa vergonha. O futebol é para meninas, não é para energúmenos que julgam poder fazer o que lhes apetece com as mulheres que querem jogar futebol. Nem para os que vendo o que está a acontecer, fazem de conta que não se passa nada.

// Paulo Baldaia
Jornalista

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