O dia 28 de abril de 2025 será lembrado como o dia em que ficámos todos às escuras. Ficámos desligados, desconectados, sem forma de comunicar. Ficámos sem luz, e muitos ficaram sem água também. Sem internet nem televisão, só a rádio nos manteve informados. Vários serviços, desde restauração, serviços públicos ou supermercados encerraram portas.
Rapidamente se criaram teorias e circularam notícias falsas para tentar explicar o sucedido. Desde um ataque informático por parte dos russos, a um avião que embateu numa central elétrica e incendiou tudo. Na verdade, as causas ainda estão a ser investigadas.
Depois da pandemia, esperava-se que tivéssemos aprendido alguma coisa sobre solidariedade e empatia mas, como bons portugueses que somos, assumimos o pior e ativámos o modo sobrevivência. Já nos estávamos a preparar para o apocalipse. Supermercados, caixas multibanco e bombas de gasolina foram rapidamente invadidos por pessoas em busca de recursos. Rapidamente esvaziaram as prateleiras, como se fosse o último dia na terra.
Como sociedade, mostramos que somos rápidos a esquecer e ainda mais rápidos a colocar os nossos interesses à frente do bem comum. Se uma pandemia não nos mudou para melhor, não vai ser a falta de eletricidade por umas horas que o vai fazer.
Paradoxalmente, foi também um momento de clareza. Numa era em que a vida acontece através de ecrãs, este corte abrupto criou um vazio que, curiosamente, muitos preencheram com presença real. Houve famílias a redescobrir o prazer da conversa sem distrações, vizinhos que se juntaram nos pátios, esplanadas ou nas escadas, crianças que brincaram na rua sem depender de consolas, tablets ou vídeos no TikTok. Muitas pessoas jantaram à luz das velas, conversaram como há muito não faziam e puseram a leitura em dia. Foi como se, por algumas horas, a humanidade tivesse feito uma pausa e voltado ao essencial. Talvez, por algumas horas, tenhamos compreendido o valor do silêncio e da presença real.
Quando a luz voltou, havia carros a buzinar, palmas e gritos de felicidade. Foi bonito. Se calhar, todos os anos, por esta altura, podiam desligar a eletricidade e as telecomunicações por algumas horas, como uma espécie de feriado nacional.
Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social