O que está em jogo na Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP não é apenas a distinção entre verdade e mentira, porque, de tudo o que tem passado pelo assador onde o Governo arde em lume brando, já não se conseguem contabilizar as mentiras e contradições e não parece haver frinchas por onde a verdade possa passar.
Os ministros, fora do Parlamento, também não ajudam. Nem cortinas de fumo, como a proposta de lei do tabaco, os aumentos na Função Pública, o reforço do abono de família ou a bonificação dos juros do crédito à habitação.
Podem os portugueses estar, como quer acreditar o elenco de António Costa, mais focados na dureza dos dias que atravessam, mas não há dificuldade maior do que a falta de confiança entre os cidadãos e aqueles que os devem representar. Mais a mais quando em causa está uma questão de Estado tão grave quanto a utilização dos serviços secretos como se fossem a polícia política de um qualquer governo ou partido.
Esta quinta-feira, é a vez de o ministro das Infraestruturas ser ouvido, depois das declarações demolidoras do seu adjunto e das descrições da novela do alegado roubo do computador, da alegada sonegação de informações ao Parlamento ou do alegado telefonema que terá recebido de António Costa. Ainda é tudo alegado e palavra contra palavra.
Agora, não será João Galamba a estar em causa, mas o próprio primeiro-ministro e a defesa férrea que fez do seu ministro contra o presidente da República, numa manobra tática elogiada pelo país que comenta.
É por isso que esta Comissão Parlamentar de Inquérito é muito mais do que a filtragem da “novela” ministerial. É sobre o palco onde ou se dá razão a António Costa ou a Marcelo Rebelo de Sousa. Porque o discurso do chefe de Estado depois da crise política que opôs Belém a São Bento foi mais do que um raspanete. Foi uma declaração de princípios de atuação sobre transparência e responsabilidade democrática relativa a quem exerce cargos públicos.
O movimento tático do primeiro-ministro para segurar João Galamba pode ter sido de perna curta.
*Diretor-Geral Editorial
// Domingos de Andrade
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