Intoxicação Digital

Fotografia via Rede Clinica

“A minha cabeça nunca para, está sempre a pensar”. Quantas vezes já dissemos ou ouvimos esta frase?

O mundo digital trouxe muitos benefícios, é um facto inegável. Podemos aceder a uma vasta quantidade de informação num curto espaço de tempo; podemos comunicar de forma instantânea com pessoas de qualquer parte do mundo; os recursos e plataformas de ensino online permitem-nos aprender novas habilidades e aprimorar o nosso conhecimento sobre qualquer tema ou área; podemos comprar uma variedade de produtos e serviços sem sair de casa, o que nos economiza tempo e dinheiro; há cada vez mais pessoas a trabalhar de forma remota, permitindo que exerçam a sua função em qualquer parte do mundo; temos acesso a inúmeras opções de entretenimento. Estes são apenas alguns dos benefícios que podemos ter no nosso dia a dia, mas, como em tudo, há sempre o reverso da moeda.

O mundo digital fez-nos ficar dependentes dos ecrãs. Todos nós, de uma maneira ou de outra, somos dependentes, seja por motivos pessoais, profissionais, ou pelos dois. Basta retirar o telemóvel a um jovem, e até mesmo a alguns adultos durante 24 horas, para percebermos como a dependência digital altera o seu comportamento. Insatisfação, inquietação, intolerância às frustrações, autocritica, falta de empatia e autocontrolo são alguns dos sintomas. Há uma necessidade de querer tudo no imediato e uma aversão ao tédio e à solidão, que muitas vezes é necessária para pararmos e conseguirmos refletir, pensar ou concentrarmo-nos em algo. A quantidade de estímulos à nossa volta esgota o nosso cérebro que não esta preparado para gerir tanta informação de uma vez só. Ficamos bloqueados, sufocados. Aborrecemo-nos muito mais rápido, mesmo com tanta coisa para fazer. Se não estamos com o telemóvel, estamos a ver televisão ou em frente ao computador ou no tablet. Nunca as pessoas tiveram uma mente tao agitada e stressada. Há uns dias, estava numa fila à espera, nas bombas de gasolina e, enquanto aguardava a minha vez comecei a observar as pessoas que iam entrando. Não tinham passado nem três minutos desde que tinham chegado e já estavam a bater com o pé no chão, a bocejar e a revirar os olhos tal era a pressa que tinham para ser atendidas. A paciência e a tolerância esgotam-se muito facilmente hoje em dia e a tendência é piorar. Pensamos excessivamente, mas sem qualquer gestão emocional e as preocupações sobrepõem-se, de forma obsessiva, nas nossas mentes, o que gera um sentimento de que tudo foge do nosso controlo. É muitas vezes aqui que começa a ansiedade e depressão. Pensamos demais e consequentemente entramos numa espiral negativa que consome a nossa energia e afeta a nossa relação connosco e com os outros. A maioria de nós já não consegue ficar sozinho/a, desfrutar da sua própria companhia e raramente se conhecem a si próprias, gera-se uma “crise de identidade”. Vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. Está comprovado que o cérebro, quando muito estimulado, fica mais acelerado e perde capacidade de concentração e memória, daí haver cada vez mais “esquecimentos” e “perda de memória” em pessoas jovens. Tirar o cérebro da zona de conforto é importante, mas existe um limite e, a partir desse limite, ocorre um desgaste.

Síndrome de Burnout

Com certeza já ouviu este termo ou conhece alguém que já teve “um burnout”. A síndrome de Burnout é “um distúrbio psíquico causado pela exaustão extrema. É o resultado da acumulação de stress, tensão emocional e de trabalho, falta de descanso e sono”. Toda esta pressão, ansiedade e nervosismo podem resultar numa depressão profunda. A síndrome de burnout é um distúrbio emocional que afeta a nossa saúde mental e, a longo prazo, pode também trazer problemas físicos. O perigo do burnout é não nos apercebermos quando se aproxima. Sentimos muito cansaço, fadiga, dificuldade em adormecer e achamos normal, tendo em conta a vida agitada que levamos. Eu própria cheguei a este ponto porque subestimei o meu nível de cansaço.

Esgotamos a nossa mente cada vez que sofremos por antecipação, com medo do futuro. Esgotamos a nossa mente quando nos preocupamos demasiado com a opinião dos outros. Esgotamos a nossa mente cada vez que comparamos o que somos e o que temos em relação aos outros. Esgotamos a nossa mente quando somos demasiado exigentes connosco e com quem está ao nosso redor. E por aqui continuava…

Para evitar chegar ao extremo é necessário encontrar um equilíbrio, deixar o cérebro descansar. Aproveitar os momentos como um único, sem dividirmos a nossa atenção para várias coisas. É necessário viver mais na realidade e menos no virtual. Fazer pausas, ter tempos livres, respeitar os horários de sono, fazer uma alimentação saudável e praticar exercício é importante para evitar a exaustão e qualquer outra doença mental. Procurar ajuda de um profissional de saúde também é importante e pode ajudar.

Mariana Neto – Licenciada em Comunicação Social – Comunidade Lusa

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