• Setembro 30, 2025
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Glória manchada de luto

Inaugurado a 24 de outubro de 1885, o Elevador da Glória é um dos símbolos mais conhecidos de Lisboa. Liga a Baixa ao Bairro Alto, percorrendo a Calçada da Glória e transporta anualmente mais de 3 milhões de passageiros. Mais do que um meio de transporte, é património, identidade e uma marca registada da cidade. Talvez por isso, o choque seja ainda maior.

O acidente ocorrido no dia 3 de setembro não foi apenas uma tragédia: foi espelho de um país onde a manutenção, prevenção e responsabilidade ficam demasiadas vezes em segundo plano. Aquilo que deveria ser motivo de orgulho, transformou-se em vergonha nacional.

O desastre resultou em vários feridos graves e na morte de dezasseis pessoas, entre elas cinco portugueses e cidadãos de sete países: Reino Unido, Canadá, Suíça, França, Estados Unidos, Ucrânia e Coreia do Sul. O que já seria devastador no plano humano ganhou outra dimensão ao envolver vítimas estrangeiras, abalando a perceção de Lisboa como destino seguro e deixando consequências económicas, turísticas e reputacionais duradouras.

As primeiras conclusões oficiais apontam para a falha de um cabo que unia as duas cabinas. Não se trata de um detalhe técnico irrelevante, mas de um componente essencial para o funcionamento seguro do sistema. É legítimo perguntar: quantas inspeções foram feitas? Com que rigor? Houve alertas ignorados? A confiança dos cidadãos nas instituições depende de respostas claras e transparentes e não de comunicados vagos ou promessas futuras.

Existe ainda um debate incontornável: como se deve conciliar a preservação do património com as exigências de segurança contemporâneas? A capital orgulha-se dos seus elétricos e elevadores, mas até que ponto está disposta a modernizar, reforçar ou substituir componentes para garantir que a tradição não custe vidas? O romantismo do passado não pode justificar a inação do presente.

Mais do que lamentar as vítimas, este incidente deve obrigar Portugal a agir. A responsabilidade não é apenas técnica: é política, cultural e cívica. Manter o património exige investimento contínuo, fiscalização e coragem para tomar decisões impopulares. Não basta vender a imagem de uma cidade como destino turístico: é preciso garantir que quem lá vive e quem a visita o faz em segurança.

O Elevador da Glória ficará, certamente, associado a esta desgraça, mas a forma como se reage pode determinar se será apenas um monumento à negligência ou um ponto de viragem para uma política séria de preservação e segurança. As vítimas merecem, no mínimo, que seja a segunda opção.

 

Lícia Alves – Comunidade Lusa

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