
Mais uma vez, Portugal foi a votos e, mais uma vez, o número de eleitores que ficou em casa foi preocupante. A abstenção tem-se tornado uma constante em cada eleição — seja europeia, legislativa ou autárquica — e é o espelho de um país onde a descrença e o desinteresse pela política parecem crescer a cada ciclo eleitoral.
É certo que muitos portugueses estão descontentes. Há frustração com promessas não cumpridas, com casos de corrupção, com a sensação de que “são todos iguais” e de que o voto já não muda nada. No entanto, há diferença entre estar descontente e desistir. A abstenção pode parecer um ato de protesto silencioso, mas é, na verdade, um silêncio que beneficia quem já está no poder. Quando não votamos, entregamos a decisão aos outros e, por consequência, perpetuamos exatamente aquilo que queremos mudar.
A solução não está em virar costas ao processo democrático, mas em usá-lo como ferramenta de exigência e de mudança. O voto é isso mesmo: uma arma pacífica, silenciosa e poderosa. Mesmo que nenhum candidato represente plenamente as nossas ideias, há sempre alternativas, opções que se aproximam mais daquilo em que acreditamos. O voto nulo ou em branco, por exemplo, expressa descontentamento de forma visível e contabilizada — é uma mensagem clara de quem exige melhor. Ficar em casa, pelo contrário, é uma mensagem que não chega a lado nenhum.
A democracia vive da participação. Se a maioria se ausenta, o resultado deixa de representar verdadeiramente o país. Por isso, mais do que lamentar a baixa afluência depois das eleições, é preciso compreendê-la e combatê-la, com educação cívica, transparência política, maior proximidade entre eleitores e eleitos e com uma mudança de atitude coletiva.
Votar não é um favor ao sistema, é uma afirmação de cidadania. É um direito, mas também uma forma de termos influência e responsabilidade. A política decide a nossa vida todos os dias — do preço da casa ao estado da saúde, dos transportes à educação. No fundo, a abstenção não é um protesto, é uma rendição. E enquanto muitos desistirem de escolher, outros continuarão a decidir por todos.
Lícia Alves – Comunidade Lusa

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