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Em 21 de maio de 2003, no Estádio Olímpico de La Cartuja, um golo do brasileiro Derlei, aos 115 minutos, selou em território espanhol o primeiro êxito português de sempre na segunda prova da UEFA, duas décadas após o Benfica ter vacilado com o Anderlecht (derrota por 0-1 na Bélgica e empate 1-1 em Lisboa), quando a decisão era jogada a duas mãos.
O confronto arbitrado pelo eslovaco Lubos Michel na Andaluzia foi emocionante, com o sueco Henrik Larsson (47 e 57 minutos) a reagir duas vezes de cabeça ao tento inicial do ‘ninja’ (45+1) e a outro do russo Dmitri Alenitchev (54) para arrastar a incerteza até ao prolongamento.
Perante a estreia sem efeito da efémera regra de desempate do golo de prata – atribuía a vitória imediata à equipa que chegasse em vantagem ao final da primeira parte do tempo extra -, o duelo teve mais meia hora, com o FC Porto a jogar em superioridade numérica.
Indiferente ao domínio de adeptos do Celtic dentro e fora do estádio, Derlei ‘arrancou’ a expulsão com duplo cartão amarelo do franco-guineense Bobo Baldé, aos 96 minutos, e tornou-se ‘herói’ aos 115, ao anotar o seu 11.º tento e igualar Larsson na liderança dos melhores marcadores da prova, sendo eleito como o melhor jogador da final.
O FC Porto ganhava o quarto dos seus atuais sete troféus internacionais, 16 anos depois dos sucessivos êxitos na Taça dos Campeões, na Taça Intercontinental e na Supertaça Europeia, com José Mourinho a festejar em lágrimas e de joelhos prostrados no relvado.
O setubalense, então com 40 anos, continuou a inspirar uma geração de treinadores na época seguinte e levou o futebol ‘demolidor’ dos ‘dragões’ a vencer a Liga dos Campeões (3-0 ao Mónaco, em Gelsenkirchen), antes de rumar aos ingleses do Chelsea, em 2004.
José Mourinho ostenta no seu currículo mais três cetros continentais, entre os quais uma ‘Champions’, ao serviço do Inter Milão (2009/10), uma Liga Europa, no Manchester United (2016/17), e uma Liga Conferência Europa, pela Roma (2021/22), que atualmente orienta.
Oito meses dispersaram a caminhada ‘azul e branca’ na 32.ª edição da Taça UEFA, que era disputada apenas em eliminatórias de duas mãos e começou em 19 de setembro de 2002, no já demolido Estádio das Antas, no Porto, com uma goleada em casa ao Polónia de Varsóvia (6-0), seguida por uma mera formalidade em Plock, apesar da derrota (0-2).
O FC Porto voltou a facilitar a sua missão na segunda ronda, ao bater o Áustria de Viena (1-0) no mesmo palco onde, em 1986/87, havia arrebatado pela primeira vez a Taça dos Campeões (2-1 ante o Bayern Munique), levando também a melhor no reencontro (2-0).
Um par de lances infelizes do guarda-redes Guillaume Warmuz ajudaria a ‘despachar’ na fase seguinte o Lens (3-0), que ainda chegou a alcançar um êxito insuficiente em França (0-1), com o camaronês Rigobert Song a marcar após falta sobre o guardião Vítor Baía.
Os turcos do Denizlispor tiveram igualmente escasso tempo para ‘sonhar’ nos oitavos de final e saíram vergados das Antas (6-1), com todos os tentos a surgirem após o intervalo, antes de terem imposto o primeiro empate na prova ao FC Porto na segunda mão (2-2).
Esse hábito de solucionar depressa as eliminatórias mudou frente ao Panathinaikos nos ‘quartos’, sendo necessário um ‘bis’ de Derlei (2-0, após prolongamento) para inverter na Grécia o golo solitário concretizado em Portugal pelo polaco Emmanuel Olisadebe (0-1).
Um tento precoce do argentino Claudio López augurou uma missão problemática face à Lazio, do conhecido Fernando Couto, nas ‘meias’, que o FC Porto tratou de descomplicar com mais dois golos do ‘ninja’, um de Maniche e outro de Hélder Postiga, numa histórica ‘serenata à chuva’ nas Antas.
José Mourinho viu cartão vermelho nessa noite – depois de puxar Lucas Castromán e atrasar um lançamento de linha lateral dos ‘laziali’ – e assistiria da bancada ao ‘nulo’ em Itália (0-0), cujos momentos mais aflitivos variaram entre a expulsão de Postiga a caminho do intervalo e um penálti de Claudio López travado por Vítor Baía durante a segunda parte.
O anseio de uma final europeia 100% portuense foi impossibilitado pelo Celtic, ao impor-se à mesma hora ao Boavista (0-1), no Bessa, com Henrik Larsson a desfazer o empate trazido de Glasgow (1-1), onde já tinha ‘anulado’ um autogolo do belga Joos Valgaeren.
‘Carrascos’ nas fases anteriores dos lituanos do Suduva, dos ingleses do Blackburn e do Liverpool, dos espanhóis do Celta de Vigo ou dos alemães do Estugarda, os escoceses queriam triunfar a nível continental 36 anos após o êxito sobre o Inter Milão (2-1) na final da edição 1966/67 da Taça dos Campeões, disputada no Estádio Nacional, em Oeiras.
O Celtic examinou ao limite a alma do FC Porto, que partiu para a Andaluzia sem Hélder Postiga, castigado, e o lituano Edgaras Jankauskas, lesionado, ficando privado durante a partida de Costinha e do capitão Jorge Costa, ambos substituídos por problemas físicos.
Nem a expulsão tardia de Nuno Valente condicionou a consagração dos sucessores dos neerlandeses do Feyenoord na Taça UEFA, encimados em campo pelo ‘génio’ de Deco, que ‘desenhou’ os dois primeiros golos portistas da final com a classe dos predestinados.
O FC Porto resgatava a sua mística e acabou a época 2002/03 em festa, ao reconquistar a I Liga portuguesa quatro anos depois, com 11 pontos de vantagem em relação ao vice-líder Benfica, e bater a União de Leiria (1-0) na decisão da Taça de Portugal, no Jamor.
Oito anos volvidos, Portugal teve uma inédita representatividade absoluta numa final continental, com os ‘dragões’ a imporem-se ao Sporting de Braga (1-0), em Dublin, na edição 2010/11 da Liga Europa, designação da prova que substituiu a antiga Taça UEFA.