• Julho 13, 2025
Logo_Site_01

Desde 1919 que este galo de Abrantes canta ao mundo

Dizem os anúncios que o azeite Gallo canta desde 1919. Mas, na verdade, há registos de que tenha começado a cantar muito antes, pelas mãos da família Victor Guedes, quando abriu uma fábrica em Abrantes. Um canto que entoou ao longo de um século de história, desde a Revolução Industrial à suspensão da venda do produto em Portugal, no pós-25 de Abril, e à globalização.

“A existência da fábrica remontará a antes de 1900, mas a marca só foi registada em 1919. Temos dois diplomas de participação numa exposição que comemora o centenário da abertura dos portos brasileiros à navegação internacional, em 1908, no Rio de Janeiro”, atesta Pedro Cruz, actual director-geral da Gallo Worldwide. Foi Victor Guedes pai quem terá registado a marca como Gallo, em homenagem às suas origens e aos seus familiares galegos.

O sucesso da empresa prendeu-se na altura com uma oferta variada de produtos – além do azeite, havia figos, nozes e vinho, e depressa acompanhou o fluxo migratório. “Na década de 1930, é formada uma rede distribuidora, o negócio deixa de se circunscrever a São Paulo, no Brasil. Hoje, em qualquer ponto da Amazónia, há uma lata de azeite Gallo.” Nos anos 60, um segundo passo internacional, também coincidente com o fluxo migratório de portugueses: a Venezuela. O êxito foi tal que hoje o azeite Gallo é consumido por todos os venezuelanos que acham que a marca é espanhola por causa do nome “Gallo”.

Enquanto a marca emerge nos mercados onde os portugueses procuraram melhores condições de vida, em Portugal dá-se a Revolução do 25 de Abril, em 1974. Com ela, o fim da agricultura e o início das importações de azeite, que levam os produtores a misturar óleo no azeite para conseguirem competir com os preços das multinacionais.

Victor Guedes filho, na altura, era um perfeccionista, intransigente com as qualidades do azeite. Nunca iria corromper o produto para fazer dinheiro, mas olhava para as autoridades com desconfiança. Para não adulterar o produto, preferiu manter a fábrica em Abrantes, mas apenas virada para o mercado externo. Voltaria mais tarde a vender por cá e a ser líder de mercado, com 14% da quota (actualmente são 20%).

Em 1989, o filho do fundador da marca não tinha descendentes que lhe seguissem os passos no negócio. Gravemente doente, decidiu vender a Gallo a duas empresas interessadas: Jerónimo Martins e Unilever. Da história da empresa, a parceria optou por respeitar valores tão fundamentais como a tradição e a obsessão pela qualidade, “que é um misto entre a ciência e arte, o saber lotear”, diz Pedro Cruz, que na altura regressava de Londres para este projecto.

“É exactamente como se faz o perfume. Há vários azeites diferentes, mas o que eu quero obter é sempre o mesmo, são coisas que estudamos com o consumidor e que são diferentes de país para país.” É por isso que a Gallo deixou de ter olivais, preferindo comprar a consumidores (de preferência nacionais). E um produto para o consumidor português não é o mesmo que para um brasileiro. Sabia que por cá o azeite é mais frutado, picante e amargo e no Brasil é muito mais suave?

Na mesma lógica, está toda a panóplia de outros produtos que a Gallo comercializa. Em Portugal os vinagres são um sucesso, no Brasil a aposta são as azeitonas. “Não temos uma política igual em todo o mundo, vimos as oportunidades e a partir daí inovamos.” Mas se estas diferenças se notam em termos de sabor, este ano deixaram de se notar na embalagem de vidro escuro. “Foi a forma de nos apresentarmos de igual forma em todo o mundo.” Mais do que design, é uma questão de qualidade: a embalagem é escura porque a luz, através do processo de oxidação, degrada o azeite.

Anuncie aqiu
    Deixe um comentário
    Logo branco

    Ultimas Noticias

    Categorias

    Logo branco
    Comunidade Lusa é um site de notícias onde pode encontrar as mais recentes informações sobre a nossa comunidade portuguesa no mundo e acima de tudo na Suíça. Aqui encontra também novidades sobre eventos culturais e temas como: desporto, mulher, opinião e publireportagens muito interessantes sobre empresas na Suíça.
    © Comunidade Lusa 2025. Todos direitos reservados.
    WP2Social Auto Publish Powered By : XYZScripts.com