
João Noronha Lopes e Rui Costa estiveram frente a frente na noite de quinta-feira, num debate que acabou por ser mais morno do que o esperado. Com a segunda volta das eleições do Benfica agendada para dia 8 de novembro, os candidatos da lista F e da lista G, respetivamente, voltaram a esgrimir argumentos, revelando vários pontos de discórdia, mas outros de alguma sintonia.
Da situação de José Mourinho no comando técnico, ao passado de Luís Filipe Vieira, sem esquecer os “ataques pessoais” e o “populismo”, foram muitos os temas em cima da mesa ao longo de 70 minutos numa emissão simultânea da RTP3, SIC Notícias, CNN Portugal e CMTV a partir do Estádio da Luz.
Com Rui Costa a vencer a primeira volta, embora sem a maioria absoluta que evitaria a segunda volta, João Noronha Lopes assumiu desde cedo que “partia atrás” e que precisava de “pedalar” para conseguir igualar o seu adversário eleitoral.
Num tom mais amigável daquele que fora visto no debate a seis emitido na BTV, precisamente uma semana antes, os dois candidatos não deixaram de apontar o dedo um ao outro.
Mourinho reúne consenso
A continuidade de Mourinho no comando técnico foi quiçá o tema que mais aproximou os dois candidatos. Tanto Rui Costa como Noronha Lopes disseram acreditar plenamente nas capacidades do atual treinador e não admitem outro cenário que não seja o trajeto de dois anos na Luz que está contemplado no contrato – apesar da tal cláusula muito ética, classificada pelo próprio Mourinho.
“Estou perfeitamente convicto de que Mourinho vai ser campeão esta época no Benfica. Agora, ele iniciou com um plantel que não escolheu e, por isso, não acho que possa ser responsabilizado se não ganhar este campeonato. O mínimo é procurar ganhar todas as provas. Vamos criar condições para isso, mas não exijo a Mourinho que seja campeão esta época”, frisou Noronha Lopes, não deixando, ainda de destacar a “conduta irrepreensível” durante a fase de campanha.
Por seu turno, Rui Costa voltou a elogiar o trabalho que Mourinho tem feito desde que sucedeu a Bruno Lage, mas acusou Noronha Lopes de ter dito, anteriormente, que o experiente técnico de 62 anos estava a ser usado como “trunfo eleitoral” pela sua candidatura. Noronha refutou a acusação.
“Ataques pessoais” em cima da mesa
Um dos picos de maior tensão aconteceu logo numa primeira fase, quando os moderadores quiseram abordar as polémicas mensagens enviadas pela candidatura de Noronha Lopes no passado sábado, dia em que decorria a primeira volta.
O candidato da lista F garantiu que as mesmas foram apenas enviadas para os “voluntários e pessoas que se inscreveram no site da campanha”, descartando responsabilidades caso as mesmas tenham sido reencaminhadas para outros sócios do Benfica.
Rui Costa sorriu ironicamente e atirou um “deve ter muitos voluntários”, antes de explicar a posição do Benfica em apresentar queixa à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD).
Pelo meio, o atual presidente acusou o líder de campanha de Noronha Lopes de ataques pessoais, ao passo que Noronha Lopes também referiu ter sido alvo de Fernando Tavares, presidente das modalidades do Benfica.
Bernardo Silva e uma questão de “populismo”
João Noronha Lopes foi ainda confrontado com o tema Bernardo Silva, depois de já ter afirmado, por diversas vezes, que vai promover o seu regresso ao Benfica. O gestor de 59 anos recusou referir se tal vai acontecer já no final desta época, mas garantiu “falar muitas vezes com Bernardo”.
Em troca, Rui Costa falou em “campanha dos anos 80” e “populismo”, mas referiu ter a convicção que o internacional português irá voltar ao clube no qual se formou.
“Ninguém pode garantir que um jogador regressa ao Benfica. Estamos a falar de campanha de anos 80 e 90… Hoje é capitão do Manchester City. Estou convencido de que, se voltar, será como Rui Costa voltou, para o Benfica, não para nenhum presidente. Já passei por isso. Quando um jogador é benfiquista e quer regressar, regressa pelo clube. Não regressa pelo presidente”, vincou Rui Costa.
“Herói Vieira” ou “reconhecimento”?
Noronha Lopes não deixou de lamentar a falta de estabilidade dos treinadores no mandato de Rui Costa, dando os exemplos de Bruno Lage e Roger Schmidt, despedidos pouco depois das épocas começarem. Rui Costa identificou uma “contradição” no discurso do adversário e uma “mudança” na forma como Noronha olha para Luís Filipe Vieira.
“De uma forma muito rápida, fez uma contradição. Se me diz publicamente que já tinha dito que Roger Schmidt tinha de ser despedido. Deu o exemplo de Jorge Jesus e Vieira. Já percebi que hoje Vieira para si até é herói. Virou herói. Ouvindo o que disse do passado e a ouvir o que estou a ouvir hoje, já percebi que a estratégia mudou. Deu o exemplo que Vieira manteve Jesus e no ano a seguir ganhou. Depois diz que Schmidt devia ter sido despedido ao final da segunda época. Está a fazer uma contradição. Está a dizer que um treinador, quando não ganha, tem de sair”, apontou Rui Costa.
Rui Costa afasta-se de Proença
A relação do Benfica com Pedro Proença, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, foi trazida para cima da mesa e motivou uma posição de contestação por parte de Noronha Lopes.
“Pedro Proença foi uma pessoa que embalou os clubes com uma promessa de 300 milhões. Nessa altura, Rui Costa deixou andar e disse que o Benfica achava que valia mais que todos os outros. Não consigo entender qual é o projeto de Pedro Proença… Na ECA defendeu um projeto que não defende os interesses dos clubes portugueses. Enquanto presidente não ia apoiá-lo. Sou completamente independente. Isso permite-me defender o Benfica que olha apenas para os interesses do Benfica”, argumentou Noronha Lopes, antes de questionar diretamente Rui Costa se voltaria a apoiar Pedro Proença.
“Não apoio a pessoa Pedro Proença, mas sim a equipa e o projeto para a Federação Portuguesa de Futebol. Aquilo que estava em cima da mesa da Liga e que passaria para a Federação, Pedro Proença está a par destes dossiês todos. O compromisso que Pedro Proença e que o projeto de Pedro Proença tem é de resolver estes problemas. Há muitas coisas a resolver, não só a centralização”, respondeu Rui Costa.
O que faltou?
Num debate limitado por 70 minutos, ficou a sensação de que muito ficou por debater entre Rui Costa e Noronha Lopes. Pouco se falou de ideias concretas para o clube e muito se tentou incidir sobre questões mais relacionadas com o presente e o papel de Mourinho, bem como os milhões que foram gastos e que estão por gastar.
No entanto, vale referir que na próxima quinta-feira há novo duelo entre os dois candidatos na BTV. Até lá, prossegue a campanha eleitoral com a expectativa de que o recorde mundial de votantes seja novamente batido.
Quanto ao grande vencedor, esse só será conhecido no dia 8 de novembro.

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