Tratam-se de tempos de um “déjà vue com molho de soja”, por via chinesa. A actual situação na República do Sudão alertou-me para este “achinezar de África”, que pode fazer desta guerra, a “proxy do século” no continente, cenário perfeito para a disputa da nova bipolaridade entre Americanos/Ocidente e China, em substituição dos soviéticos. Daí o “déjà vue”! Quanto ao “tripolar”, é juntar a Rússia à China na equação da bipolaridade. Ocidente versus China e Rússia, para que não hajam dúvidas!
A realidade “guerra proxy” está cada vez mais patente, com alinhamentos claros. A saber:
Os “paramilitares” do “semi-general” Hemetti
As aspas servem para sinalizar que este “Estado-Maior” com mais de 100 mil homens em armas, não se trata de um corpo oficioso, antes oficial, por “lei Bashir” de 2017 que oficializou as Forças de Apoio Rápido (FAR) enquanto Força de Segurança Independente. Quanto ao semi-general, nunca foi militar de carreira, antes um latifundiário influente no Darfur que capitalizou minas de ouro, mais terra e mais gado na parceria estabelecida com Omar Bashir (1989-2019), em 2013 aquando da federação das milícias Janjaweed em FAR. As forças Wagner são cruciais neste cenário, já que são os “carreteiros do ouro” de Hemetti para Moscovo e para os mercados paralelos.
O Exército Nacional de al-Burhan
A curiosidade desta guerra no Sudão, é o facto de a Rússia estar implicada nos dois lados, já que o seu Estado-Maior tem negócios de armas e acordos de cooperação técnico-militar com o Estado-Maior da República do Sudão, o que a obriga a apoiar o Exército Nacional do General Burhan nesta “guerra-civil internacional”. É aqui que a China é sugada para dentro da contenda, já que se apresenta como alternativa à omnipresente Rússia!
A China, que já não é totalmente dependente do petróleo da República do Sudão e teve que jogar um jogo duplo aquando da independência do Sudão do Sul, onde está a fonte do ouro negro, deverá ficar ao lado de Burhan, já que nestes tempos de incerteza, manter esta fonte de combustível em carteira, dá ainda mais garantias à presença militar chinesa no não distante Djibuti, num dois em um regional com ambições continentais. A China brevemente abrirá mais bases militares em África e só precisa de desculpas como esta para o fazer, maximizando recursos, influência e ganhos.
Os Estados Unidos da América, também omnipresentes de longa data, são o jogador mais conservador, por muito que nos filmes apareçam como os “mavericks salvadores”! Apostam sempre no “status quo” até à última e nos dois lados também, sendo que neste cenário o interesse americano é manter o inimigo principal debaixo de olho, a China, com capacidade e vontade para fazer de África o principal “tabuleiro proxy”, na disputa com americanos, que a guerra faz-se longe de casa. África, sempre a meio-caminho para tudo e para todos!
Quando é que isto termina? Até quando a queda do próximo muro?
Muito provavelmente, só haverá um estado de elevação colectiva conjugado com acontecimento planetariamente simbólico, na passagem do próximo século. Também só aí haverá destruição suficiente para a elevação dos espíritos em colectivo.
O que parece é que será a “África do meio-caminho” uma vez mais a pagar as favas, num século picotado por guerras regionais ao jeito de uma bipolaridade que já conhecemos!
//Raúl M. Braga Pires
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