É pertinente observar que algumas pessoas experienciam um sentimento de realização plena ao realizarem doações. Para estes indivíduos, a satisfação decorre da intenção de contribuir, sendo o cumprimento do propósito da doação encarado como responsabilidade da instituição beneficiária. Contudo, a maioria significativa dos potenciais doadores condiciona a sua disponibilidade para doar à confiança que têm na organização e no projeto apresentado. Por outras palavras, a confiança é o elemento essencial que move as pessoas a apoiar causas. Sem ela, o ato solidário fica paralisado.
Ora muitas destas organizações constituem pilares fundamentais da transformação social, contudo, frequentemente, enfrentam dúvidas quanto à sua credibilidade. A ocorrência esporádica de casos de má gestão, que alcançam visibilidade nos media, tem um impacto negativo na perceção pública. É imperativo reverter esta situação. A resposta a este desafio é clara: é necessário estabelecer uma base sólida de transparência, responsabilidade e proximidade.
É imperativo salientar que a maioria significativa das organizações sociais opera de forma ética e comprometida, produzindo um impacto positivo em milhares de vidas. Mais do que identificar as causas da desconfiança, é fundamental demonstrar que é possível e seguro depositar confiança nas organizações que adotam práticas exemplares.
A transparência deve ser uma prática central, sendo imprescindível tornar claras as ações e aplicações de recursos, através de relatórios financeiros detalhados e de fácil acesso. Além disso, a prestação de contas não se trata apenas de um processo administrativo, mas sim de uma demonstração de respeito, de forma que cada doador sinta que o seu contributo é valioso. É igualmente indispensável mostrar como os fundos foram aplicados e apresentar o impacto concreto gerado. A partilha de histórias de pessoas impactadas, dados claros e resultados tangíveis contribui para reforçar essa confiança, tal como a proximidade com a comunidade.
A abertura das organizações, através da promoção de visitas e eventos, estabelece laços mais robustos com os seus apoiantes. A observação do trabalho de perto fortalece a confiança e elimina dúvidas, humanizando as iniciativas. Parcerias estratégicas e auditorias independentes constituem sinais evidentes de compromisso com a integridade e auxiliam na validação dos processos internos.
Se, por um lado, é indubitável que as organizações sociais estão obrigadas a ser transparentes e responsáveis, por outro, a sociedade também precisa de estar disposta a conhecer e apoiar. Em Portugal, apesar de existirem muitas pessoas dedicadas ao voluntariado, o número de voluntários é ainda insuficiente para responder às necessidades crescentes dos projetos sociais. Esta circunstância é particularmente relevante, uma vez que restringe o contacto direto com as instituições, reduzindo a perceção do impacto positivo que estas geram e aumentando a vulnerabilidade da sociedade às narrativas negativas provocadas por casos isolados. Deste modo, a confiança não depende apenas da transparência das organizações, mas também da nossa disposição em conhecer, apoiar e acompanhar os projetos. A participação ativa na criação de uma cultura de confiança e cooperação, promovendo o fortalecimento do setor solidário como um todo, é fundamental para mitigar os efeitos negativos dos casos isolados e fomentar o desenvolvimento social.
Para que a solidariedade seja bem-sucedida, é imperativo desenvolver uma cultura de confiança inabalável nas organizações sociais. É essencial reconhecer o impacto positivo que estas organizações podem ter e valorizar aqueles que se dedicam a transformar realidades. Acredito que a confiança não é apenas um ato de esperança, mas sim um elemento construtivo de um futuro melhor para todos.