Vivemos numa era em que o conceito de novidade perdeu a sua essência. Antes, um produto surgia, despertava curiosidade, conquistava o seu espaço pouco a pouco e, só depois, se tornava tendência. Hoje, basta um vídeo viral para transformar qualquer coisa num objeto de desejo universal, mesmo que ninguém soubesse da sua existência no dia anterior.
Este fenómeno deixou de ser exceção para se tornar regra. Todas as semanas surge um novo “must have”: o chocolate do Dubai, o morango do amor, as uvas com sabor a algodão doce… A lista é tão infinita quanto volátil. Tudo parece irresistível, urgente, essencial até que, semanas depois, desaparece do feed e dá lugar ao próximo delírio coletivo.
As redes sociais, sobretudo o TikTok, alimentam esta dinâmica com uma precisão cirúrgica. Os influencers mostram, recomendam e o algoritmo amplifica. As filas formam-se, as prateleiras esvaziam-se, os preços disparam. A maior parte das pessoas nem chega a refletir se aquilo realmente lhes faz falta. Querem experimentar antes que acabe, antes que os outros publiquem primeiro, antes que passe de moda.
As marcas agradecem: já não precisam de fazer um planeamento a longo prazo, de investir em campanhas elaboradas ou em produtos duradouros. Os lucros são imediatos.
Mas o que ganhamos nós, consumidores, com tudo isso? Uma experiência genuína ou apenas mais um produto esquecido na gaveta passado um mês?
Este consumo desenfreado tem efeitos colaterais silenciosos: desperdício, aumento da pegada ambiental (desde o transporte acelerado até ao descarte precoce de embalagens e produtos), ansiedade constante e a sensação de que estamos sempre a perder algo se não aderirmos imediatamente.
O problema não é experimentar coisas novas – a inovação é saudável e descobrir sabores ou produtos diferentes faz parte da curiosidade humana. O problema é a ilusão de necessidade que se cria. Compramos porque queremos ou porque temos medo de ficar de fora?
No fundo, estas atitudes dizem mais sobre nós do que sobre os produtos. A verdade é que a maior parte destas modas não passa disso mesmo: uma moda. Se quisermos mudar esta roda-viva, é preciso que cada um de nós consuma com mais consciência e, sobretudo, com menos pressa.
Lícia Alves – Comunidade Lusa
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.