Caio Bonfim entrou, na madrugada de sexta-feira para sábado, para a história do atletismo brasileiro, ao tornar-se no terceiro brasileiro a sagrar-se campeão do mundo, em atletismo, graças à medalha de ouro conquistada na prova dos 20 quilómetros de marcha atlética, nos Campeonatos do Mundo que decorrem na capital japonesa de Tóquio.
O desportista de 34 anos de idade até nem começou bem, mas, a partir do 30.º minuto, ‘ganhou gás’ e aproximou-se dos líderes, tendo acabado por conseguir cruzar a linha da meta imediatamente à frente do chinês Wang Zhaozhao e do espanhol Paul McGrath, para igualar um feito que, até ao momento, no país, apenas tinha sido alcançado por Fabiana Murer (no salto com vara, em 2011) e Alison dos Santos (nos 400 metros barreiras, em 2022).
No entanto, após cruzar a linha da meta, em declarações prestadas à estação televisiva canarinha SportTV, a preocupação era só uma: “A minha aliança caiu, ao terceiro quilómetro, e eu pensei ‘Acho que a minha esposa só vai perdoar-me se eu conseguir o ouro’. É para ela, então”.
“Acho que ela vai perdoar-me. Eu vou encontrá-la [à aliança]. Ela mandou-me mensagens todos os dias. Eu tinha dito, aos 35 quilómetros, que ela me tinha enviado uma mensagem a dizer ‘Luta por nós, vence por nós’. Depois, ainda mandou ‘Medalha de ouro. Acredita”, começou por afirmar.
“Realmente, ainda não me caiu a ficha. Eu não sabia que estava na luta pela medalha de ouro. Ultrapassei o chinês e o espanhol, na última volta, e fiz a vinda para o estádio rapidamente. Quando eu faço a curva e olho para aqui, para a chegada, penso ‘Aos 35 quilómetros eu era segundo e não havia faixa'”, prosseguiu.
“Olhei para o ecrã gigante e reparei que estava em primeiro. Olhei para o lado, e o [japonês Toshikazu] Yamanishi não estava lá. Não o vi a entrar no ‘pit line’. Pensei ‘Meu Deus, vou ser campeão do mundo’. Agora, sou campeão do mundo”, rematou, visivelmente emocionado com o que acabara de fazer.
“Pedi calma à minha mãe”
Nesta entrevista, Caio Bonfim revelou, ainda, o que disse à mãe, a antiga atleta Gianetti Sena, quando, no arranque da prova, se viu afastado do pelotão da frente: “Pedi-lhe calma, porque estava com um bom ritmo. Sabia que precisava de ter fôlego, no fim. Ela estava com medo de eu não conseguir alcançar os líderes, e eu tinha de demonstrar que estava sob controlo. Nas duas últimas voltas, eu não aguentava mais, mas não podia desistir”.
“É o meu oitavo Mundial. Os 50 que largaram também treinaram muito bem. Quando passas a linha da meta como o melhor do mundo, passa-te um filme pela frente. São quatro medalhas. Lembro-me do Caio que via o Mundial pela TV. Fui sexto classificado, em 2015, e esses filmes vão passando. A minha mãe foi oito vezes campeã brasileira, e eu vivo neste ambiente de desporto. Hoje, disse que somos campeões do mundo. Eu ainda não entendi nada, mas valeu a pena”, completou.
Tem de iniciar a sessão para publicar um comentário.
