Um homem, que sofria de doença hepática crónica, morreu dois dias depois de ter esperado sete horas para ser visto por um médico nas urgências do hospital do Barreiro e ter-lhe sido dada “alta por abandono” erradamente.
O caso remonta a fevereiro de 2024 e foi denunciado pela nora do utente, segundo conta a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) no documento que reúne as deliberações relativas ao segundo trimestre de 2025, divulgado na quinta-feira, 25 de setembro.
Segundo a mulher, o sogro deu entrada na urgência do hospital em questão pelas 11h27. No mesmo dia, pelas 18h, tentou visitá-lo mas foi informada que “o senhor” já tinha tido “alta”.
Desconfiada que o sogro não tinha tido alta, uma vez que a família não tinha sido informada desse facto, a mulher pediu à funcionária para verificar essa situação e obteve a mesma resposta.
“Não satisfeita, a reclamante entrou no serviço de urgência para procurar o utente, tendo-o encontrado ‘deitado numa maca, num estado verdadeiramente deplorável'”, cita a ERS.
A mulher dirigiu-se, então, ao médico de serviço que lhe terá transmitido que “tinha visto” o homem numa “cadeira de rodas no corredor e que o tinha chamado três vezes pelo nome, mas como este não respondeu à chamada, acabou por lhe dar ‘alta por abandono'”.
O utente, que acabou por ficar internado, viria a falecer dois dias depois desta situação.
“Abordagem médica foi a correta” mas alta por abandono não
Em resposta à reclamação, o hospital do Barreiro garante que “a abordagem médica foi a correta, tendo o utente sido internado após avaliação clínica, realização de terapêutica e de meios complementares de diagnóstico e terapêutica”.
No entanto, reconhece “que se trata de uma situação inadequada, visto não ter sido confirmada a ausência do familiar do utente e sido erradamente efetivada a alta por abandono”.
Assim que se constatou o ocorrido, explica o hospital, “o registo clínico foi reaberto, gerando observação clínica imediatamente”.
“O episódio que nos relata é inadmissível e reconhecemos que houve uma falha na comunicação entre os vários profissionais de saúde”, descreve ainda a unidade de saúde.
Perante isto, a ERS concluiu que “a conduta da ULSAR [Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho, vulgarmente conhecida como hospital do Barreiro], não se revelou garantística da proteção dos direitos e interesses legítimos do utente.
Torna-se assim “imperioso garantir que os procedimentos assistenciais empregues pela ULSAR salvaguardam o direito de acesso a uma prestação de cuidados de saúde integrada, continuada e tempestiva”, lembra ainda a ERS na mesma nota.
De acordo com a CNN Portugal, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) já está a investigar o caso.
Ao Notícias ao Minuto o Conselho de Administração da ULSAR afirmou que “é falso” que o doente tenha morrido esquecido numa maca, como foi noticiado por alguns órgãos de comunicação social. Porém, não presta mais esclarecimentos sobre o assunto porque está “obrigada ao sigilo profissional e confidencialidade dos dados clínicos”.
“Não se configura oportuno divulgar mais nenhuma informação, mas estamos disponíveis para colaborar na investigação da Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), tal como aconteceu com a Entidade Reguladora da Saúde (ERS)”, concluíram
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