A dor vai continuar. A dor de pagar um crédito à habitação cada vez mais caro não tem analgésico que resulte, pelo menos num futuro próximo. Christine Lagarde avisa que é improvável que Banco Central Europeu, a que preside, declare no futuro próximo que taxas máximas foram atingidas. Por outras palavras, os juros vão continuar a subir. Lagarde escolheu Sintra para anunciar que “o BCE continuará a aumentar as taxas de juro em julho”.
A natureza da inflação na zona euro está a mudar, admitiu, mas é improvável que o banco central possa declarar que se chegou a um patamar aceitável das taxas diretoras. Reafirmou o que já sentimos na pele todos os dias: a inflação na zona euro é demasiado elevada e continuará a sê-lo durante demasiado tempo, sendo que o compromisso do banco central em atingir a meta de inflação de 2% se mantém. Na prática, não havendo alteração substancial na inflação a dor não só vai continuar como tende a agudizar-se.
Muitas famílias já estão com a corda na garganta porque o dinheiro não chega para pagar a prestação da casa, a conta do supermercado e os custos de energia e, à beira de irem de férias ou de tentarem pelo menos respirar e descansar, ficam ainda mais inquietas. Um mundo de incertezas permanece Christine Lagarde explicou que existem duas fontes de incerteza que afetam o “nível” e a “duração” das taxas diretoras.
O dinheiro não estica e a despesa sobe consistentemente. Dispara a conta do banco, dos alimentos (até mesmo os produtos com IVA zero estão em alta de preço, como é exemplificativo o caso dos ovos) e a energia ainda está demasiado cara. Ao ouvir Lagarde, ficamos com duas certezas: vamos ter de continuar a apertar o cinto e é cada vez mais difícil fazer previsões para a gestão do orçamento familiar. Como assumiu, a política é decidida caso a caso, reunião a reunião. Problema? A população ativa não está preparada para tamanha instabilidade. Nas últimas décadas as taxas nunca terem subiram tão rapidamente e ainda que façam ginástica financeira ou procurem um analgésico potente, capaz de aliviar tamanho impacto, nenhuma terapêutica está a funcionar. Hoje começam a ouvir-se relatos de casas entregues ao banco e do regresso de casais jovens à casa dos pais. Podem ser ainda casos pouco representativos, mas são micro sinais de um problema que pode virar macro, como aliás recentemente alertou o FMI.
No debate do fórum anual organizado pelo banco central e que reúne banqueiros centrais, académicos, especialista da área financeira e decisores políticos, Lagarde não disse muito sobre o futuro próximo, mas o que referiu foi suficiente deixar os cidadãos preocupados e a fazer ainda mais contas à vida. “Alcançámos progressos significativos, mas, confrontados com um processo inflacionista mais persistente, não podemos vacilar, nem ainda declarar vitória”, sublinhou. A vitória parece longe e o desapertar do cinto ainda mais.
Diretora do Diário de Notícias