Parece ser consensual a opinião de que a recente visita do Primeiro-ministro António Costa à República de Angola se saldou por um enorme sucesso, testemunho de que afinal são boas e se recomendam as relações entre os nossos dois países ou não fossem eles irmãos, como é frequente ouvir dizer-se nos discursos de circunstância.
Com os olhos postos nesta visível realidade julgo ser nosso dever prestar mais e melhor atenção para o enorme potencial estratégico existente e como deve ser aproveitado para bem dos nossos países, cujo panorama demográfico é substancialmente diferente.
Como se sabe, Portugal atravessa um inverno demográfico, com baixa natalidade, maior longevidade e sérias consequências na segurança social enquanto que Angola é um pais jovem com muitas riquezas naturais, em visível crescimento e uma população zelosa dos seus direitos.
Curiosamente, e aquilo que aqui nos traz, é o facto de que tendo em conta os numerosos acordos assinados termos verificado que a Saúde não aparece ou se aparece é francamente secundarizada.
Ora, a Saúde é promotor da coesão e estabilidade social, do bem estar e qualidade de vida das populações e tem um enorme impacto na economia e finanças de qualquer país. Paralelamente é também um pilar fundamental na área da cooperação, reforçada pela eficácia e garantia do instrumento Diplomacia da Saúde. Neste contexto as necessidades são várias e as oportunidades imensas. Portugal têm todas as condições para promover um eficiente plano de formação de médicos especialistas e outros profissionais de saúde, estruturando claro está, os seus moldes de cooperação em saúde e fazendo um levantamento exaustivo do imenso contributo que ONGs e outras Associações fazem há muitos anos no terreno.
Por outro lado, há vontade de investimento privado na promoção de equipamentos e gestão de assistência à saúde e de apoio ao desenvolvimento de recursos humanos, não obstante sabermos ser fundamental haver garantias de estabilidade a longo prazo e a concordância dos Governos.
Os interesses e parceiros estratégicos na área da saúde conhecem-se, tem boas relações, estabelecem vias de comunicação constantes e estão superiormente interessados em mover esforços para se alcançarem resultados positivos e consistentes, haja para isso vontade e empenho.
Portugal pode e deve liderar a cooperação em saúde no espaço lusófono, bastando para tanto que os titulares das nossas chancelarias experientes e criativos se interessem pelo assunto.
Médico especialista em saúde pública e Secretário Permanente da Comunidade Médica de Língua Portuguesa