• Abril 19, 2025
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Se a UE volta à América Latina, Portugal conta

Das muitas críticas que se fazem à tese do choque de civilizações de Samuel P. Huntington, umas das menos citadas e provavelmente das mais contundentes é não ter incluído a América Latina na civilização dita ocidental, juntamente com a Europa Ocidental, a dupla Estados Unidos-Canadá e ainda Austrália e Nova Zelândia. Como comentou um dia o diplomata e poeta mexicano Homero Aridjis, Huntington terá imaginado o Ocidente como um produto da cultura anglo-saxónica, quando na verdade é um fruto da civilização greco-latina.

Entre os europeus, ninguém mais do que portugueses e espanhóis sentem essa falha, na verdade um erro crasso de avaliação pelo grande académico. Talvez Huntington tenha valorizado em excesso a componente indígena de alguns países latino-americanos (onde existem comunidades em número e influência que obviamente já não existem nos Estados Unidos), menosprezando a forte miscigenação que também aconteceu e sobretudo o contributo europeu para a identidade dessa parte do mundo, um contributo originalmente português e espanhol, daí a relevância das línguas ibéricas, mas depois muito mais vasto: basta ver a diversidade de nomes (Aridjis, só a título de exemplo, tem raízes gregas).

Considerada durante muito tempo uma espécie de pátio das traseiras dos Estados Unidos, designação que os latino-americanos naturalmente contestam, a região tem visto nos últimos anos aumentar a presença da China, primeiro parceiro comercial de boa parte dos países latino-americanos. Também a Rússia tenta exercer a sua influência, seja em Cuba e Nicarágua ou ainda na Venezuela. Portanto, contrariando Huntington, está na hora de os europeus mostrarem o quanto partilham valores civilizacionais com os latino-americanos e apostarem numa nova parceria transatlântica.

O editorial de quinta-feira do El País tinha como título “A UE volta à América Latina”, e, com base num documento ainda não divulgado oficialmente, explicava que, além da visita em junho da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a Brasil, México, Argentina e Chile, e da cimeira em Bruxelas em meados de julho entre os 27 e os países da América Latina e Caraíbas, existe um generoso pacote financeiro. E já se conhece a parte espanhola, dez mil milhões de euros, sendo que Madrid joga forte neste regresso da UE pois no segundo semestre assume a presidência.

E Portugal? Tem que ter também protagonismo nesta aproximação. Afinal, mesmo se tivermos em conta os 33 países abrangidos do outro lado do Atlântico, quase um terço dos 700 milhões de pessoas envolvidas falam português. O mais acertado será nesta matéria uma aliança com Espanha, pois ninguém mais na UE tem a sensibilidade necessária para liderar o processo de aproximação à América Latina. E uma prioridade ibérica deveria ser convencer os parceiros a concluírem finalmente o acordo Mercosul-UE.

Brindemos, pois, a este planeado regresso europeu à América Latina. Brindemos com um bom Porto ou um xerez, ou com uma tequila, um pisco, uma cachaça, um rum ou um tinto Malbec. Se a UE volta à América Latina, então Portugal tem de ter uma palavra a dizer.

// Leonidio Paulo Ferreira – Diretor adjunto do Diário de Notícias

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